terça-feira, 27 de maio de 2014

Faleceu o Mateus Silva, por José Capitão Pardal

Faleceu o Mateus Silva
Amigo descansa em Paz


Foi com sentida consternação que, após ter regressado do Almoço anual do Batalhão de Cavalaria 3878, que tive conhecimento do falecimento do amigo e camarada de armas, Mateus Silva.
 
Faleceu mais um dos nossos, daqueles que na flor da sua juventude, deram aquilo que tinham e não tinham em defesa de um ideal, que na maior parte das vezes não era o deles.
 
No auge da sua juventude o Mateus Silva esteve connosco, viveu connosco, sofreu connosco e foi solidário connosco.
Nesta hora de despedida é necessário que digamos:
 
MATEUS SILVA ESTAMOS CONTIGO E DESCANSA EM PAZ
 
GUARDA LÁ PERTO DE TI UM LUGAR PARA TODOS NÓS
QUE FOMOS, SOMOS E SEREMOS SEMPRE SOLIDÁRIOS E COMPANHEIROS PARA OS RESTOS DOS NOSSOS DIAS.
 
Um abraço póstumo para ti e as minhas sentidas condolências ao filho Hélder Silva, à esposa e à restante família enlutada.
 
Agora deixo a todos as palavras sentidas do nosso camarada Paulo Lopes para todos os amigos e camaradas de armas que já nos deixaram:

 
Mateus Silva
 



As Comadres e o Major, por Duarte Pereira

MEUS SENHORES
 
TEMOS INFORMAÇÕES "CONFIDENCIAIS" DO VOSSO EX-MAJOR DE OPERAÇÕES.
 
ESTUDOU NO COLÉGIO MILITAR, PODERIA TER TIDO UMA CARREIRA MILITAR DE SUCESSO.
 
TINHA MAIS QUINZE ANOS QUE VÓS.
 
NÃO SABEMOS QUANTAS COMISSÕES TERIA FEITO ANTES DA VOSSA....
 
NÃO SERIA BURRO DE TODO.
 
QUANTOS TERÁ CASTIGADO E PREJUDICADO NO BATALHÃO??
TEMOS INFORMAÇÃO DO DIAS NUNES, QUE PARA NÃO DAR "PORRADAS" ENVIAVA OS MILITARES DE CASTIGO PARA A 3509.
E QUE CASTIGO!...

POR QUE TERÁ COMEÇADO A BEBER??
CASAMENTO?
MAL COMPREENDIDO?
CONTRA QUALQUER COISA??
UM MILITAR DE CARREIRA, APAIXONADO PELA MESMA NÃO BEBERIA.

DA PARTE DO NOSSO AUTOR, SABE QUE OFERECEU UM FRIGORÍFICO PARA O ALTO DA PEDREIRA.
MANDOU O QUARTO PELOTÃO FAZER UMA OPERAÇÃO COM O FERRAZ PARA OS LADOS DO QUITERAJO MUITO COMPLICADA.

"CONVIDOU" O TERCEIRO PELOTÃO A FAZER UMA OPERAÇÃO DE TRÊS, QUATRO DIAS EM TRIÂNGULO E ELES SEGUIRAM PELA HIPOTENUSA.
 
O NOSSO AUTOR VIU UM ACAMPAMENTO DE TURRAS ASSALTADO PELOS GE´S E BOSTA DE ELEFANTE.
 
AVANÇAR COM CATANA FORA DOS TRILHOS, NOITES "PAVOROSAS", EXPERIÊNCIA ÚNICA"). 

O NOSSO AUTOR ESTAVA LONGE (DAS DECISÕES).

QUEM ESTEVE PERTO DELE PODERÁ TER OUTRA OPINIÃO.

ACABOU A SUA CARREIRA COMO CORONEL.
MORREU PORQUE ABUSOU DO TABACO E DA BEBIDA, DE DOENÇA QUE APOQUENTA TANTOS SERES HUMANOS (CANCRO).
MORREU AOS 65 ANOS.

PELO QUE TEMOS LIDO DO SR. RUI BRANDÃO, ELE (RUI BRANDÃO), MERECERIA UM "VALENTE CASTIGO" E COM A FAMÍLIA.
 
IR UM MÊS PARA O ALTO DA PEDREIRA.
HAVIA INSTALAÇÕES CONDIGNAS.
 
  • O Major Fernandes, creio que ainda foi 2º Comandante do RC3, em Estremoz.
  • E o então Ten. Cor. Carvalho Simões, Comandante do BatCav 3878, quando regressou veio para Comandante do RC3, já como Coronel (tem a sua foto na galaria dos Comandantes do RC3).
  • O Tem. Cor. Carvalho Simões foi, posteriormente, Comandante da Região Militar Centro, em Coimbra, já como Brigadeiro, tendo-se reformado nesse posto.
     

domingo, 25 de maio de 2014

Será que o Major ouviu o guia?..., por Armando Guterres


Primeiro SABER as ordens;

Segundo o que os VCC COSTUMAVAM fazer;

Terceiro = NUNCA FAZER NEM UMA NEM OUTRA.
 
O major mandou-me com meio pelotão e um guia a patrulhamento noturno com saída do Laku (restaurante em Macomia) e chegada de madrugada à estrada do Chai.
 
Teria de emboscar de hora a hora (não levava relógio e de noite para quê!) e andando.
ESTAS AS ORDEM---
VCC dormir de baixo da mangueira e de manhã arrancar.
Fui andando e já de noite perguntei ao guia se ali era perigoso...
E então, mandei o pessoal dormir...
Quando se começou a ver, lá nos fomos até à picada.


Fui-me apresentar ao dito que nada me perguntou . . . .
Mas será que ouviu o guia?
VCC (gíria militar) - Velhinhos como o c...
{foto militar}

sábado, 24 de maio de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA - Capítulo III, por Rui Brandão


ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
CAPÍTULO III
O quê?
Outra vez aquela chachada toda?
Nem penses...

As mulheres por vezes têm o tal feeling:
- Não te esqueças da nossa situação.
A casa, o meu emprego e é melhor não haver chatices no quartel.

Eu era (como todos nós) maçarico ou checa se preferirem, naquele ambiente de África dita portuguesa.
O medo ou receio - já não sei - lixa-nos o raciocínio e as ideias...
Para abreviar, lá levei mais uma xaropada, que sem tirar nem por, foi a mesma lengalenga da anterior.

Vim a saber mais tarde que o(s) convite(s) que me eram endereçados, tinham apenas o suporte de o Sr. Administrador gostar de acrescentar mulheres brancas aos seu jantares institucionais.
Porra!!! 

Para além do fascismo e o colonialismo (que é uma vertente do primeiro) descobri também o racismo. 
Tudo completo...
A memória já não me deixa ter a certeza se "mamei" mais um jantar daqueles.
Mas sei que um dia (tinha que se dar...) disse NÃO de vez.
Acabou!!!
Perante as insistências da minha mulher, pedi-lhe que inventasse uma desculpa qualquer (que eu estaria de Sargento de dia ou coisa assim), já que seria tipo radical dizer-lhe que não era "simpatizante" do regime político em vigor.
De fato não se passou nada de registo a seguir, sei que os convites acabaram.
Até que um dia...
Houve a festa de despedida do Sr. Adjunto.
Coisa fresca...Foram convidados todos os Oficiais e eu como único Furriel (lá estava novamente a mulher branca...) para o jantar de despedida.

Foi qualquer coisa de hilariante.
Recordo-me que estava uma das noites mais quentes que encontrei em Moçambique. 
A malta desatou a beber em roda livre. 
Começaram a ouvir-se vivas ao proletariado! 
Canções revolucionárias de Coimbra (...e o chapéu aos quadradinhos e o chapéu aos quadradinhos), estrofes dispersas de Zeca Afonso. 

Na despedida já altas horas da noite, os Oficiais deram a entender que se iam embora e o Sr. Administrador (sempre com aquele seu ar apaneleirado) vinha para a porta despedir-se.
A malta despedia-se e voltava a entrar. 
Isto foi repetido por diversas vezes. 
O escape coletivo estava a funcionar...
Recordo-me que nesse mesmo dia, o Alf. Branco (do Esquadrão) tinha mandado a mulher embora (senão também lá estaria...); apanhou um "buba" daquelas das antigas. 
Dançava com movimentos ondulantes do corpo com os braços à volta do pescoço dando a entender que estaria a dançar com uma parceira. 
O pessoal anfitrião estava escandalizado!!!
O Alf. Marques Pinto do Esquadrão (grande malha) gritava-me: Brandão, morreu um homónimo teu na Guiné, recebi hoje uma carta da namorada dele. 
Filhos da Puta!!! Eu sou um comunista extraviado!!!
Nota talvez interessante... 
O PIDE estava mesmo atrás dele e ouviu tudo. 
Tudo o que o Marques Pinto falava comigo e aquilo que eu respondia em sintonia com ele.
Não vale a pena adiantar muito mais. 
O jantar foi num Sábado. 
No Domingo de manhã, todos os Alferes foram chamados ao gabinete do Comandante. 

O PIDE foi-lhe dizer que comandava um Batalhão subversivo e que tivesse muito cuidado.
O Comandante (os Alferes poderão contar melhor por que eu não estive nessa reunião) pediu mais contenção e cuidado com os comportamentos (mais ou menos isto).
Quanto a mim, bem quanto mim a rampa tinha acabado de subir o que poderia subir. 
A partir daquela noite foi sempre a descer...
Passados mais ou menos 2 meses (eles sabiam como fazer as coisas...) recebi uma carta dizendo que teria que passar a pagar renda (já publiquei nesta página uma imagem de um desse Recibos).

Comecei a ser seguido por um PIDE, que naquela altura estava em comissão (presumo que sabem, que os PIDES rodavam mais ou menos de 3 em 3 ou de 4 em 4 meses). 
Apanhava-me quase sempre quando eu ia sozinho ao Bar de Sargentos durante a tarde ou de manhã. 
A puta da conversa era sempre a mesma:
- Olá Sr. Furriel. Tudo bem? a família tem mandado notícias? como é que tem andado? Animado? etc, etc, etc,.
Torneava sempre as questões e demonstrava que estava com pressa. 
Pirava-me logo do Bar de Sargentos.
Passado um mês a minha mulher foi despedida da Administração. 
Boa!!! 
Aquilo estava mesmo a aquecer.

Poucos dias depois fui chamado ao gabinete do Comandante. 
Tinha recebido uma queixa da mulher do Sr. Adjunto (o tal que se tinha ido embora) que a minha mulher tinha uma dívida de 3 mil e tal escudos para com ela e nunca a tinha pago. 
O Comandante apontou-me o dedo e disse-me que não queria vergonhas com nenhum homem dele. 
Fiquei parvo e sem capacidade de resposta. 
Não sabia o que dizer. 
Disse apenas que não sabia e ia tentar resolver o problema. 

Descobri que era tudo mentira e que a tal "queixa" foi forjada na Administração.
Passados dois dias entreguei a quantia exata ao Comandante (inicialmente ele não queria) para que ele ficasse com a certeza que sempre tinha as minhas contas em dia.
Poucos dias depois fui chamado ao gabinete do Sr. Administrador. 
Bonito!!! pensei eu; o que é que este me quer agora?
Apresentei-me às 3 horas (hora combinada).
 Foi um espetáculo de fúria Fascista/Colonialista.
Chamava-me (dizia ele) para me dizer que não aceitava comportamentos indignos dos Oficiais do Batalhão!!! (queres ver que o gajo agora droga-se...). 

Estava furioso porque o Alf. Andrade tinha ido embora de férias e tinha levado a mulher com ele (ela também regressou de vez) e nem sequer tinha ido despedir-se dele!!! (dele, Administrador, entenda-se). 
Tinha-lhe arranjado uma casa (ficava um pouco abaixo da porta de armas ao lado da casa do Sarg. Ventura - mecânico).
E continuava com uma lição de moral à moda dele, sem eu perceber quando é que eu ia "entrar em campo". 
Começou a tornar-se repetitivo e até mesmo cansativo. 

Decidi provocar...
Recostei-me na cadeira, cruzei as pernas e entrelacei os dedos.
Foi o caraças!!! 
=O Finório levantou-se (mas ficou atrás da secretária) espumava/babava-se (verdadeiramente) e apontava-me o dedo. 
Não admitia a militar nenhum faltas de respeito e comportamentos como o do (Ah, aí apanhei-o!!! não foi capaz de se referir a mim) Sr. Alferes Andrade.
Como bom fascista/colonialista, não teve tomates de enfrentar um Furriel miliciano (eu era o Furriel miliciano mais graduado do Batalhão) em comissão em zona de 100%).

Claro que tudo aquilo era exatamente para mim.
Passados uns dias recebo uma carta a dar-me 30 dias para abandonar a casa, uma vez que a Administração ia precisar de alojar um novo funcionário que estaria a chegar. 
Claro que nunca chegou nenhum funcionário. 
Dali a 30 dias estava na rua (leia-se no meio do mato) com a minha mulher e uma bebé de um ano e mais alguns meses.
*** Continua no próximo Capítulo
Gosto · 

sexta-feira, 23 de maio de 2014

As comadres escrevem ao compadre, por Duarte Pereira


Duarte Pereira
CARTA CONFIDENCIAL 

AO SR CAPITÃO PARDAL.

COMPADRE É UMA HONRA PARA NÓS, EMBORA JÁ NÃO A TENHAMOS, A SUA ESCOLHA PARA NOS "BLOGAR".

http://www.batcav3878.blogspot.com

SABEMOS QUE ESSA COISA DÁ TRABALHO E MUITO TEMPO PARA SE MONTAR NUMA COISA DESSAS.

É DO CORAÇÃO DE AMBAS, AS DUAS, AGRADECEMOS E EMBORA OS NOSSOS MARIDOS NÃO APRECIEM, FICARÁ PARA SEMPRE GRAVADO NO NOSSO CORAÇÃO, FÍGADO E BAÇO DOS NOSSOS MARIDOS.


MAS NÃO EXAGERE, JÁ NÃO TEMOS MAIS LÁGRIMAS PARA CHORAR E NÃO QUEREMOS VERTER ÁGUAS PELA COISA QUE NOS PODERÁ DAR MAIS SAUDADES.

BEIJINHOS PARA SI COMPADRE.
MAS NA FACE, NÃO NO LOCAL DAS SAUDADE.

.
NOTA: AGORA VAMOS LER OU VER UMAS "COISAS" PUBLICADAS POR UM "DISSIDENTE", QUE ANDA AQUI PELA PÁGINA E PARECE SER COISAS COM INTERESSE E NADA DE FUTEBOLADAS.

quinta-feira, 22 de maio de 2014

A partida tão esperada, para Portugal, por Paulo Lopes


Paulo escreveu: Estou como tu José Guedes! Talvez o Jose Capitao Pardal, Rui Briote, Gilberto Pereira, João Marcelino, Livre Pensador e mais uns quantos gostem de ler. 


Afinal não tinham sido capazes de destruir completamente os sentimentos humanos que tinha trazido comigo quando saí de Lisboa. 


Qualquer coisa de bom ainda tinha ficado dentro de mim: sem saber porquê, nem porque não, entrou no meu pensamento — enquanto navegava pelas ruas das diferentes cidades de Moçambique, ainda de camuflado já gasto e calejado encostado à minha pele — uma constante e preocupada pergunta: como é que teria corrido a primeira picada de regresso à Mataca aos nossos substitutos? 

O meu pensamento voou pelo imenso território e transportei o desejo sincero de que tudo tivesse corrido bem!

Apesar do estado de espírito ser bem diferente daquele que me tinha acompanhado durante largo e vasto tempo, começava a ficar com uma enorme ansiedade no corpo por tanta demora para a definitiva partida. 

Acabaram em princípios de Julho de mil novecentos e setenta e quatro, todos esses trabalhos liquidatários. 

Finalmente, tínhamos viagem marcada para Lisboa: dia vinte e oito de Julho de mil novecentos e setenta e quatro saímos de Nampula, com destino à Beira para, no mesmo dia, apanharmos o avião até Lisboa.

E assim foi... Assim foi mas só para o capitão e o primeiro-sargento. 
Eu fiquei! 
Um engano mecanográfico mantinha-me preso e à espera de nova marcação. 
Mais uns dias de separação do abraço aos meus!

Mas, dia um de Agosto de mil novecentos e setenta e quatro (o meu verdadeiro vinte e cinco de Abril) saí da Beira com destino a Lisboa.

Uma lágrima de alegria escorria pela minha face. 
Um adeus a África que nunca foi, não é, nem será, minha!

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes"

quarta-feira, 21 de maio de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA - Capítulo II, por Rui Brandão


ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
CAPÍTULO II
Quando a minha mulher me diz que tínhamos que ir jantar a casa do Administrador, fiquei sem saber o que dizer. 
Aquilo não estava previsto. 
Eu não estava preparado para uma coisa daquelas. 
Mas a propósito de quê, é que eu mais a minha mulher era convidado para ir jantar a casa do senhor mais poderoso lá do sítio? 
A minha mulher percebeu e atalhou de imediato; não tens alternativa...

Ok, farda nº 2, sapatos engraxados e ela só não foi ao cabeleireiro por que não havia esse tipo de loja lá naquela terra do norte de Moçambique.

Na sala enorme e com decoração mais do que colonialista, fomos recebidos em casa do Sr. Administrador por um criado mais ou menos bem vestido (presumo que era um dos milícias que costumava montar segurança à casa do Senhor...).

Comeu-se do bom e do melhor (marisco à brava e carne no forno e mais não sei o quê...). 
A mesa estava composta por 10 a 12 pessoas. 
O Administrador e o seu Adjunto e as respetivas esposas. 
Um senhor ainda jovem (se a memória não me falha, era um dos PIDES que estava lá em comissão nessa altura), penso que o funcionário dos correios também, e mais 4 ou 5 pessoas que já não me recordo quem eram.
A conversa à mesa abordava temas correntes da Administração dos quais eu estava completamente a leste. 
Aliás nessa noite estive sempre com aquele ar de parvo sem saber o que dizer ou puxar qualquer tipo de conversa.

Chegou o momento da sobremesa...
E eis que o Sr. Administrador se levanta!!! 
Ele, com aqueles calções brancos e uma camisa igualmente branca com umas "merdelices" douradas nos ombros que lhe conferia um ar de "paneleiro mal comido". 
Eu estava atónito!!! 
Ele começou a discursar!!!
Iniciou com um "apelativo" - Neste difícil Concelho de Macomia!!! - Rebebéu, Rebebéu, Rebebéu, onde no meio daquele destilar de conceitos fascistas e colonialistas, tais como "a presença de Portugal em África" e ainda "Portugal do Minho a Timor" terminou com um viva a Portugal Uno e Indivisível!!! 
Claro que as palmas se soltaram. 
Eu estava estarrecido. 
Já não me lembro o que se terá passado a seguir, mas a noite terminou com o Sr. Administrador a cumprimentar a minha mulher com um "beija mão" já à saída, junto à porta.
Cheguei a casa e disse à minha mulher:
- Nunca mais!!! Ouviste? Nunca mais!!!

Passadas mais ou menos 4 a 5 semanas, a minha mulher chega a casa vinda do emprego e diz-me:
- Fomos novamente convidados para ir jantar a casa do Sr. Administrador...

***Continuação no próximo capítulo

25 de Abril - Viva a Liberdade, por Manuel Cabral



Duarte Pereira
AS COMADRES ENVIARAM-ME ESTE TEXTO PUBLICADO PELO MANUEL CABRAL (EX-FURRIEL) QUE ESTEVE COMIGO, EM 1973 NO 3º PELOTÃO DA 3509 . EMBORA APAREÇA POUCO NA PÁGINA TAMBÉM TEMOS DIREITO AO SEU TEXTO.
Manuel Cabral
há 9 horas perto de Valença, Brazil · Editado
.
Tenho por hábito há muitos anos não falar publicamente de política, mas hoje, perante a enorme quantidade de comentários saudosistas do antigo regime, não posso ficar calado.


Muitos dos que falam hoje da superioridade do que se passava antes do 25 de Abril de 1974, não viveram esses tempos, não sofreram a intolerância de um regime que calava pelo medo e pela repressão os que pensavam de maneira diferente, os que queriam para o nosso país um futuro diferente.
E esta é a primeira grande diferença entre os dois tempos: a tolerância.


Foi graças ao fim da intolerância que hoje, os que estão em desacordo com o que se passa, podem expressar os seus pontos de vista, defender até o regresso ao passado, a um passado em que apenas os que detinham o poder podiam ter opinião, e os outros não podiam expressar o que sentiam, o que pensavam, fosse de que forma fosse.


Os que hoje falam do mal que estamos, esquecem que eles próprios ajudaram a chegar onde estamos agora - todos somos culpados, não há inocentes.
Uns porque agiram mal, outros porque não agiram, outros ainda porque deliberadamente tentaram destruir o estado de democracia em que vivemos.
Mas uma coisa é certa - mesmo com todos os erros, com todas as escolhas erradas, todos contribuíram, com o seu voto, para estarmos onde hoje estamos.


Ao contrário do que se passava antes do 25 de Abril, onde as eleições não passavam - quando existiam - de farsas armadas para perpetuar no poder os que lá se encontravam.


Fala-se muito dos políticos desonestos de hoje, mas não porque no passado eles não existissem - simplesmente hoje todos sabemos quem eles são, pois mesmo com todos os seus defeitos, a imprensa de hoje pode e fala sobre eles, denuncia os roubos que fazem, os danos que exercem sobre a nossa economia.


E se as instituições não funcionam, se os tribunais relaxam e deixam que os prazos se imponham à justiça, hoje, tudo isso é conhecido, tudo isso aparece em público.


Antes, quem se atrevesse a denunciar os abusos dos presidentes das Câmaras, do polícia do bairro, era simplesmente abafado, quer pela agressão física que grupos de "justiceiros" do regime se encarregavam de aplicar, quer pela perseguição política, pela prisão, pelo degredo.


Num regime que, ao mesmo tempo, castigava brandamente um marido traído, que matava a esposa infiel, ou uma filha apanhada na cama com o seu namorado, num regime que encobria os crimes dos que lhe eram fiéis.
Mas nada se sabia, em público, ao contrário do que se passa hoje.


Não vale a pena os que hoje defendem o regresso ao passado pensarem nisso - nunca vai acontecer, não porque os que defendem a mudança sejam melhores, mais fortes, mais poderosos. 
Simplesmente porque quem um dia provou o sabor da Liberdade não vai deixar que lha tirem de novo.

O que vale a pena é aproveitar a tolerância que se conquistou com o 25 de Abril, e com o uso apropriado do voto, com o uso dos direitos que o 25 de Abril pôs à disposição de todos, exigir aos corruptos, aos inaptos, que se afastem, pondo no lugar deles, os que verdadeiramente querem um Portugal melhor para todos.

Porque eu sei o valor que ela tem, viva a Liberdade!

terça-feira, 20 de maio de 2014

As comadres e o 25 de Abril, por Duarte Pereira



Duarte Pereira
SABEMOS QUE JÁ TINHAM SAUDADES NOSSAS.

DESDE QUE O SR CAPITÃO PARDAL NOS COLOCOU NOS BLOGS, AUMENTOU A VENDA DE COMPUTADORES NO ALENTEJO.



FOMOS CONVIDADAS COMO RAINHAS PARA AS COMEMORAÇÕES DO 25 DE ABRIL EM GRÂNDOLA.


QUEM MAIS "MORENAS DO QUE NÓS"??? 
COM AQUELE SOL TROPICAL E O SALGADIÇO DO OCEANO ÍNDICO....

ESTÁVAMOS NO PALANQUE DA PRESIDÊNCIA A OUVIR OS DISCURSOS E A DIZEREM MAL DO GOVERNO. 
ATÉ AÍ TUDO BEM. 
COMEÇOU A CHEGAR UM CHEIRINHO DE UNS GRELHADOS ALI PERTO E JÁ NÃO ESTÁVAMOS COM MUITA ATENÇÃO, AO QUE OS DISCURSANTES DIZIAM. 
OS NOSSOS RABOS JÁ REBOLAVAM NAS CADEIRAS E O POVO OLHAVA PARA TODO O LADO. 

QUEM DISCURSAVA, DEU POR ISSO E CONCLUIU O SEU DISCURSO DIZENDO; A LIBERDADE ESTÁ EM FAZER O QUE NOS ESTÁ NA GANA. 

TAMBÉM JÁ SINTO O CHEIRO DA PATUSCADA GRÁTIS QUE SE APROXIMA. 
VAMOS MAS ´É TODOS DAR AO SERROTE. AMIGOS.
FOI O DISCURSO MAIS APLAUDIDO. DE PÉ E JÁ TODOS A ANDAR PARA O RECINTO DOS COMES E BEBES.

DEPOIS DA FESTA MUITO SE CANTOU, A GRÂNDOLA VILA MORENA E OS MAIS NOVOS ALGUMAS MÚSICAS, QUE O SR PAULO LOPES TEM POSTO NA VOSSA PÁGINA. 



AINDA VOLTAMOS AO PALANQUE E UM COMPADRE AINDA TENTOU DIZER UNS VERSOS DO SR JOÃO MARCELINO, MAS FORAM ATIRADOS MUITOS TOMATES PARA CIMA DELE E ELE DISSE UNS PALAVRÕES QUE NÃO PODEMOS TRANSCREVER.

AINDA RECEBEMOS AS MEDALHAS DA VILA, COMO TÍNHAMOS COMIDO À MÃO UNS PEDACITOS DE LEITÃO E TINHA MOLHO, AS NOSSAS BLUSAS FICARAM SUJAS.
 
A SEGUIR MUITA BAILAÇÃO. 
NADA DE AGARRADINHO. 
AS NOSSAS BARRIGAS JÁ NÃO DÃO PARA "SENTIR" O VERDADEIRO PRAZER DE DANÇAR, DEPOIS DE UM ALMOÇO BEM REGADO. 
PENA NÃO TER TOCADO O " JE NÃO TAIME PÁ O TEU PELUCHE




BEIJINHOS A TODOS.

domingo, 18 de maio de 2014

NEM SEI BEM ONDE PASSEI, por João Marcelino



VIAJEI ATÉ AQUI, NEM SEI BEM ONDE PASSEI,..
SE PASSEI JÁ NÃO ME LEMBRO,
DE PASSAR O QUE PASSEI,..
PRA ENCONTRAR UM AMIGO
VOLTARIA A PERCORRER CAMINHOS,
POR ONDE ANDEI,..
NOUTRO TEMPO ESSE PASSADO
FEZ PARTE DE NÓS,..
SÓ ISSO EU SEI !!!...

sexta-feira, 16 de maio de 2014

Os alentejanos e as anedotas, por Duarte Pereira




Duarte Pereira (As comadres alentejanas)

PARA AGRADECER OS BLOGS AO COMPADRE PARDAL, FOMOS "ROUBAR" UM TEXTO AO SR LUIS LEOTE. 
CHEGÁMOS À CONCLUSÃO QUE TER AMIGOS DÁ PARA "DESVIAR UMAS COISAS", SE O COMPADRE JÁ LEU EM TEMPOS, RELEIA.

TRIBUTO AOS ALENTEJANOS
(Para ler com tempo)

Alentejo
Palavra mágica que começa no além e acaba no Tejo
O rio da Portugalidade
O rio que divide e une Portugal e que à semelhança do homem português, fugiu de Espanha à procuro de mar.

O Alentejo molda o caráter de um homem.
A solidão e a quietude da planície dão-lhe espiritualidade, a tranquilidade e a paciência dum monge.
As amplitudes térmicas e a agressividade da charneca dão-lhe resistência física, a rusticidade, a coragem e o temperamento do guerreiro.
Não é Alentejano quem quer. 
Ser Alentejano não é um dote é um dom. 
Não se nasce Alentejano, é-se Alentejano.

Não foi por acaso que D. João II se teve de se refugiar em Évora para descobrir a Índia. 
No meio das montanhas e das serras um homem tem as vistas curtas; só no coração do Alentejo um homem consegue ver ao longe. 
Mas foi preciso Bartolomeu Dias regressar ao reino depois de dobrar o Cabo das Tormentas sem conseguir chegar à Índia, para D. João II perceber que só o costado dum Alentejano conseguia suportar o peso dum empreendimento daquele vulto.

Aquilo que para um homem comum fica muito longe, para um Alentejano fica já ali. 
Para um Alentejano não há longe nem distância, porque só um Alentejano percebe intuitivamente que a vida não é uma corrida de velocidade, mas uma corrida de resistência onde a tartaruga leva sempre a melhor sobre a lebre. 
Foi, por esta razão, que D. Manuel decidiu entregar a chefia da armada decisiva a Vasco da Gama. Mais de dois anos no mar…
Para um Alentejano. o caminho faz-se caminhando e só é longe o sítio onde não se chega sem para de andar. 
E Vasco da Gama limitou-se a continuar a andar onde Bartolomeu Dias tinha parado.

O problema de Portugal é precisamente este: 
Muitos Bartolomeu Dias e poucos Vasco da Gama. 
Demasiada gente que não consegue terminar o que começa, desiste quando a glória está perto e o mais difícil já foi feito. 
Ou seja muitos portugueses e poucos Alentejanos.

D. Nuno Álvares Pereira, aliás, já tinha percebido isso, caso contrário, não tinha partido tão confiante para Aljubarrota. 
D. Nuno sabia bem que uma batalha não se decide pela quantidade mas pela qualidade dos combatentes.
É certo que o rei de Castela contava com um poderoso exército, composto por espanhóis e portugueses, mas o Mestre de Avis contava com meia dúzia de Alentejanos. 
Não se estranha, assim, a resposta de D. Nuno aos seus irmãos, quando o tentaram convencer a mudar de campo com o argumento da desproporção numérica: -Vocês são muitos?
O que é que isso interessa se os Alentejanos estão do nosso lado?

Mas os Alentejanos não servem só as grandes causas, nem servem só para as grandes guerras. 
Não há como um Alentejano para desfrutar plenamente dos mais simples prazeres da vida.
Por isso se diz que Deus fez a mulher para ser a companheira do homem. 
Mas, depois teve de fazer os Alentejanos para que as mulheres também tivessem algum prazer. 
Na cama e na mesa, um Alentejano nunca tem pressa. 
Daí a resposta da Eva a Adão quando este intrigado lhe pergunta o que é que o Alentejano tinha que ele não tinha: -Tem tempo e tu tens pressa!

Quem anda sempre a correr, não chega a lado nenhum. 
E muito menos ao coração duma mulher. 
Andar a correr é um problema que os Alentejanos, graças a Deus, não têm. 
Até porque os Alentejanos e o Alentejo, foram feitos ao sétimo dia, precisamente o dia que Deus tirou para descansar.

E até nas anedotas, os Alentejanos revelam a sua superioridade humana e intelectual. 
Os brancos contam histórias dos pretos, os brasileiros dos portugueses, os franceses dos argelinos, só os Alentejanos contam e inventam anedotas sobre si próprios. 
E divertem-se imenso, ao mesmo tempo que servem de espelho a quem as ouve.

Mas para que uma pessoa se ria de si própria, não basta ser ridícula porque ridículos todos somos. 
É necessário ter sentido de humor. 
Só que isso só é um extra só disponível nos seres humanos topo de gama. 
Não se confunda, no entanto, o sentido de humor com alarvice. 
O sentido de humor é um dom da inteligência, a alarvice é o tique da gente bronca e mesquinha. Enquanto o alarve se diverte com as desgraças alheias, quem tem sentido de humor ri-se de si próprio. Não há maior honra do que ser objeto duma boa gargalhada. 
O sentido de humor humaniza as pessoas, enquanto a alarvice diminui-as. 
Se os grandes ditadores se rissem de si próprios nunca teriam sido as bestas que foram.

As anedotas Alentejanas são autênticas pérolas de humor: curtas, incisivas, inteligentes e desconcertantes, revelando um sentido de observação, um sentido crítico e um poder de síntese notáveis. 
Não resisto a contar a minha anedota preferida: 

Num dia em que chovia muito, o revisor do comboio entrou numa carruagem onde só havia um passageiro.
Por sinal um Alentejano que estava todo molhado em virtude de estar sentado num lugar junto a uma janela aberta: 
- Ó amigo, porque é que não fecha a janela? (Perguntou o revisor).
– Isso queria eu, mas a janela está estragada (respondeu o Alentejano).
– Então porque é que não troca de lugar?
– Eu trocar trocava, mas com quem?

Como bom Alentejano, que me prezo de ser, deixei o melhor para o fim.
O Alentejo, como todos sabemos, é o único sítio do mundo onde não é castigo uma pessoa ficar a pão e água. 
Água é aquilo que qualquer Alentejano anseia, e o pão…
Mas há melhor iguaria que o pão Alentejano? 
O pão Alentejano come-se com tudo e com nada. 
É aperitivo, refeição e sobremesa. 
É tão bom no primeiro dia, no dia seguinte ou no fim da semana. 
Só quem come o pão Alentejano está habilitado para entender o mistério da fé. 
Comê-lo, faz-nos subir ao céu.

Por tudo isto, que sempre que passeio pela charneca numa noite quente de verão, ou sinto no rosto o frio cortante das manhãs de inverno. 
Dou graças a Deus por ser Alentejano.
Que maior bênção poderia um homem almejar?

Dum Alentejano 
Desconheço o autor

quarta-feira, 14 de maio de 2014

ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA - Capítulo I, por Rui Brandão


Pois bem. 

Começa-se a perceber que o stock de material fotográfico lá das bandas da Guerra está a ficar a zero.
Os temas (naturalmente) começam a ter desvios daquilo a que nos propusemos nesta página e ainda bem. 
Significa que não parámos no tempo.

Permitam-me então que volte a um tema prometido por mim quando apareci nesta página. 
Exatamente contar-vos a "Guerra" em Macomia. 


Significará contar-vos aquilo que os operacionais não tiveram. 
Repressão, perseguição, controlo da PIDE e ódio colonialista destilado para cima de quem não "alinhava" na palhaçada e ainda, imaginem, uma situação terrível de guerra, debaixo de fogo que ninguém do nosso Batalhão viveu.. 

Isso mesmo companheiros!!! 

Tive a oportunidade de estar uns tempos na Mataca e verifiquei o ambiente de camaradagem, liberdade e respeito pelos superiores hierárquicos.

 

Alguém já disse nesta página que cada vez que ia a Macomia, "aquilo" era só amarelos. 
Se fosse só amarelos...
Já não era mau. 
A guerra comandada por "Oficiais de Salão" é no mínimo obscena.

Começarei pela minha História a que darei o Título
ACONTECEU ANGÚSTIA EM MACOMIA
CAPÍTULO I
Deveria estar a decorrer o terceiro mês de comissão quando veio para junto de mim a minha mulher (do 1º casamento) e a minha filha com 5 meses (a Carla Alexandra que carinhosamente chamávamos Chana). 

Macomia afigurava-se um pequeno paraíso. 
De fato não havia Guerra por ali (isso era coisa para as Companhias operacionais e para quem fazia colunas). 
Comia-se bem, camaradagem muita e da boa, petiscadas dia sim dia sim. 
Aquilo era qualquer coisa como que umas férias com tudo incluído (mas...à borla). 

Inicialmente aluguei uma casa junto à cantina do LAKU (ainda se lembram?).


Só lá fiquei duas noites porque a esposa de um administrativo que trabalhava na Administração conseguiu que nos disponibilizassem gratuitamente uma casa que estava desabitada mesmo junto ao quartel. 
Foi fantástico. 
A casa tinha qualidade e sentia-me mais protegido (assim como assim...). 
Mas... 
A casa pertencia à Administração. 
O ambiente continuava favorável, a minha mulher conseguiu emprego na Administração e ganhava 3.000$00 por mês. 
Tínhamos dinheiro, estávamos bem instalados e ninguém nos chateava. 
Eram farras praticamente todas as noites!!! 

Um dia a minha mulher ao chegar a casa vinda do emprego diz-me:
- Fomos convidados para ir jantar a casa do Sr. Administrador.

*** continua no próximo Capítulo