quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Homenagem ao Marcelino, por Rui Brandão

Rui Brandão
 
Pois bem...
Após alguns dias "desenfiado", volto ao contato com os militantes desta página.
 
Estava eu (e continuo a estar...) no propósito de homenagear os companheiros que "habitaram" lá para os lados do Chai, quando se meteu por motivos de calendário o Almoço do Batalhão.
 
Claro que houve matéria nova para refrescar as conversas, novas fotos que motivaram os mais diversos comentários e até piadas.
 
Não posso ficar indiferente ao que se passou naquele dia.
Consegui ver o "me...u" soldado Marcelino ao fim de 40 anos.
Que bom.
Foi mesmo especial.
 
Como é que eu encontrei o Marcelino?
Precisamente na mesma.
Falador e sempre com a auto estima em cima.
Continua de fato na mesma...

Como homenagem ao Marcelino, publico hoje uma foto em pleno Quartel de Macomia com o melhor aprumo "operacional" (do Marcelino claro...) que cada um pode reconhecer.
 
Um abraço Marcelino.
 
 

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Um aerograma, por Luis Leote


20/11/2014 
 
Remexendo o baú das recordações....

A propósito da disponibilidade que o Fernando Lourenço colocou, para quem desejasse ver o filme que foi feito por ele e o filho, coloco aqui um pensamento, que roubei não sei onde, e que retrata o que vi!!!!

1971 - Cabo Delgado - Norte de Moçambique...



 Um aerograma...



"...O medo, a raiva e a ansiedade são na guerra as personagens principais, mas é o cansaço o verdadeiro protagonista.

O cansaço é a pior coisa que há numa guerra.



A fadiga do corpo, a fadiga da mente, a fadiga da própria vida, que nos aproxima tanto da morte que dir-se-ia uma tentação permanente.

Acho que se há heróis numa guerra, que lutam com desprezo da própria vida é porque estão demasiado exaustos para considerarem a vida uma coisa digna de apreço.

Nesta exaustão completa, o próprio instinto de sobrevivência desaparece."

sábado, 27 de dezembro de 2014

O nosso compadre Capitão Pardal, por Duarte Pereira

Duarte Pereira

(Em nome das Velhas)

 
COMPADRE PARDAL NÃO SAIA JÁ.
TEMOS UM ARTIGO À PAULO LOPES.
E O PROMETIDO É DEVIDO, AQUI VAI.

SE HOJE AINDA É DIA DE PORTUGAL, TAMBÉM É DIA DO NOSSO COMPADRE CAPITÃO PARDAL.

OS CAPITÃES DE ABRIL FIZERAM O QUE FIZERAM. O NOSSO CAPITÃO PARDAL CONTINUA A FAZER À SUA MANEIRA A DEFESA E O DESENVOLVIMENTO E BEM ESTAR DA TERRA ONDE MORA. BOMBEIROS, CAMARAS, TALVEZ JUNTAS DE FREGUESIA.

ASSOCIA A SUA VIDA PARTICULAR AO "CHEIRINHO DA POLÍTICA".

AINDA BEM QUE O PLURAL DE CAPITÃO É CAPITÃES, PORQUE SE FOSSE "CAPITÕES" O TEXTO PODERIA SER OUTRO.

QUEREMOS ESCLARECER QUE JÁ ÉRAMOS "AMBAS AS DUAS" DIVORCIADAS, QUANDO NOS CONVIDARAM PARA ADERIR À PÁGINA DO BATALHÃO.

O NOSSO ESTADO CIVIL CONTINUA COMO CASADAS, PARA NÃO SERMOS ASSEDIADAS POR ALGUNS ELEMENTOS DA GRUPO (EX: SR GILBERTO PEREIRA, MAS ANDAM POR AÍ OUTROS, PORQUE SOMOS MUITO "BOAS ATRÁS". (TEMOS O TESTEMUNHO DO SR. TÓINO). 

MOTIVO DO DIVÓRCIO.
OS NOSSOS EX- MARIDOS LIGAVAM DEMAIS À CULTURA, PASSAVAM MANHÃS, TARDES E NOITES A ABSORVER A BIBLIOTECA.
O VINHO ALENTEJANO NÃO É NADA DE SE DEITAR FORA.

DEPOIS NÃO IAM DIRETAMENTE PARA CASA E NÃO EXERCIAM O SEU "DIREITO", MUITO POUCAS VEZES "CÍVICO".

TIVEMOS DE ESCOLHER A OPOSIÇÃO E TEMOS DIFICULDADE EM NOS SENTAR.

APOIAMOS O PRÓXIMO CONVÍVIO A ORGANIZAR PELO NOSSO COMPADRE.
ESTAMOS ATENTAS A UMAS COISAS QUE APARECEM NO SEU FEED DE NOTÍCIAS.
"CORO DO SAMOUCO"??
COMO ESTAMOS A FICAR "MOUCOS" TEMOS DE APROVAR.
UMA BOA ESCOLHA.
E O QUE MAIS PODERÁ VIR?? 
APOSTAMOS MUITO NESSE EVENTO.
O COMPADRE PODE CONTAR COM A NOSSA COLABORAÇÃO.

"INVESTIREMOS" MUITO NESSA SUA FESTA.
MUUUUUUUUUUU!!!
PENSAMOS DORMIR EM ESTREMOZ OU JANTAR E DORMIR EM VIANA DO ALENTEJO.
E TALVEZ DEPOIS SEGUIR PARA SUL.
ALGARVE, PARA UNS DIAS NO VELEIRO DO SR. FERNANDO LOURENÇO, QUE PODERÁ LÁ ESTAR DE FÉRIAS.

TEMOS DE APROVEITAR O QUE A VIDA NOS PODERÁ PROPORCIONAR.

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Um desabafo: Ainda hoje conservo um sentimento de revolta, por Paulo Lopes


Paulo Lopes

Amigo e companheiro Rui Briote, desculpa a minha ousadia (provavelmente repetida) mas deixa-me responder ao teu comentário à minha maneira apenas para te dizer que tudo isto não é de agora e que, enquanto não vier uma "liberdade" a sério, tudo continuará na mesma venha quem vier para o comando do bicho chamada "poder".
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Ainda hoje conservo um sentimento de revolta que me obriga a não perdoar e desconfiar de todo e qualquer politico ou governante.
Jamais esquecerei que, à custa do sangue, do medo sofrido, da deterioração cerebral, do desgaste psíquico e até da própria vida de muitos jovens, andam hoje, a ser aplaudidos, levados em ombros e até adorados, nomes que foram potenciais causadores de todo um quadro degradante, de todos estes anos perdidos, de tantas vidas desfeitas.
Nomes que voam por cima.
Que aparecem nas primeiras páginas dos jornais, revistas e noticiários como grandes heróis, salvadores de um povo, lavradores de uma independência!
Gentalha podre de rica à conta de cambalachos e corrupções, de esmagamento de vidas alheias, de prepotências desmedidas, que ironicamente, hoje são, grandes comunistas, socialistas, sociais-democratas, revolucionários, esquerdistas, direitistas e do que mais estará para vir, que eles mesmo — sempre os mesmos— inventarão.
Enfim, grandes e fervorosos defensores da democracia, dos direitos dum povo, da paz dos portugueses e do mundo!...
Filhos da p...!
Contudo, e o que me faz ainda doer mais, é que estes senhores, civis ou ainda militares, donos do mundo e da vida, continuam e continuarão a ser sustentados e levantados aos céus por aqueles que outrora perderam a juventude servindo os interesses de quem nunca se interessou por eles.

Portugal viu partir muitos soldados.
Uns nunca mais voltaram.
Outros regressaram feridos na alma e no corpo.
Outros ainda, como grandes heróis que nunca foram.
Grandes combatentes de batalhas que nunca sentiram.
Expoentes máximos no conhecimento de guerrilha que heroicamente travaram nos cafés e esplanadas das diversas cidades Moçambicanas.

Os muitos que realmente foram verdadeiros heróis, com todo o seu medo de combater, com todo o seu receio de ter que disparar a sua arma, com todos os sentidos em pleno desespero, com toda a sua virtude de voltar costas à guerra, passam despercebidos no meio da multidão que corre loucamente, não para acarinhar os jovens que já esqueceram que foram jovens, mas sim, para aplaudir e dar vivas a uma qualquer miss de Portugal, ou uma qualquer equipa de futebol que, algures, nesse mundo que transborda paz e alegria, obtiveram um lugar de destaque.
Multidão que corre a aplaudir e festejar vitórias de todos esses partidos políticos que existem no nosso Pais a beira-mar plantado, comandados por senhores tão democráticos como os de outrora.

Tudo o que para trás ficou escrito serve apenas para homenagear todos aqueles desventurados que, sem saberem a razão, tombaram na defesa da mentira dos poderosos.

Também não passa dum forte abraço a todos os heróis sem medalhas, que, perdidos no tempo e na memória, passam despercebidos, sem histórias mal contadas para dizer.

Quero aplaudir todos aqueles que determinadamente convictos, conseguiram fugir a muitas ordens dadas por desmedidos animais ao serviço do poder.

Quero coroar todos os que, à maneira de cada um, foram suficientemente heróis para dizer NÃO a muitas operações, fugindo delas como podiam, não acatando ordens daqueles que nunca estavam no local para as poder fazer cumprir.

in “Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis”
paulo lopes

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

Trilhos, por Duarte Pereira

Duarte Pereira
 
APANHÁMOS O TEMA "TRILHOS" NAS MEMÓRIA NÃO ESCRITAS PELO SR. DUARTE A QUEM O SR ANTÓNIO BRITO TRATA AGORA OS EX-FURRIEIS POR " FUGUICHEIROS".
 
 
EM 1973, O SR DUARTE ERA POR "CUNHA" E NÃO POR MÉRITO "ALFUCHICHEIRO", SERIA ELE O RESPONSÁVEL PELAS OPERAÇÕES DO 3º PELOTÃO DA COMPª 3509.
 
 
QUEM ORIENTAVA AS OPERAÇÕES??
ELE???
NEM PÓ.
 
AGARRAVA NO MAPA E IA TER COM OS GUIAS (MÍLICIAS).
 

 
 
DIZIA ELE: TENHO INSTRUÇÕES PARA IR DAQUI PARA ALI, MAS TENHO DE PASSAR MESMO POR AQUI, POR ONDE DEVEMOS IR??? 
 
ELES RESPONDIAM.
CONHECEMOS A ZONA.
PODEMOS PISAR AQUI E ALI.
MAS COMO ISTO ESTÁ NESTE MOMENTO TEREMOS DE ABRIR CAMINHOS À CATANADA.
 
TUDO FELIZMENTE CORREU BEM E GRAÇAS AOS GUIAS. HÁ UMA FOTO QUE O SR FERNANDO LOURENÇO TIROU, QUE O SR DUARTE CONSIDERA A MELHOR DO SEU ÁLBUM. QUE DEVE TER BATIDO COM A "TROMBA" NALGUNS ARBUSTOS COM PICOS.
 
 
 
MORAL DA HISTÓRIA: TEMOS DE ESCOLHER OS NOSSOS "TRILHOS".
 
OS APARENTEMENTE MAIS FÁCEIS, PODERÃO MAIS TARDE DEIXAR SEQUELAS PARA O RESTO DA VIDA.
 
BEIJINHOS. 
 
 HOJE DIA DE PORTUGAL DEMOS AO "CANELO".
 
A NOSSA SINGELA HOMENAGEM AOS EX-COMBATENTES. 
 
NÃO SOMOS "RESPONSÁVEIS", NÃO DESMAIÁMOS NO NOSSO DISCURSO. 
 
CRITICAR É FÁCIL.
 
DAR A "CARA" AQUI NA PÁGINA NÃO É PARA TODOS.
 

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Chicharro frito com arroz, por Paulo Lopes

 
 
Toma lá mais um bocadinho Duarte Pereira:
Após reunidos e perfilados na parada à saída da caserna e sem muitos rodeios, pôs-nos a caminhar mais ou menos ordenados em direcção ao refeitório.
 

Primeira refeição: Chicharro frito com arroz.

Até que do chicharro gostei ou então seria a fome que já fustigava o estomago e resmungava por qualquer ementa, mas o arroz, coitado, parecia feito de um bago só, qual cimento quase seco!...
 

Enfim, do mal, o menos, e dava para afugentar a fome que se ia aproximando dos nossos esfomeados esqueletos! Decerto que me esperavam coisas bem piores que um simples arroz mal confecionado!
 
Digo eu!

in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

domingo, 7 de dezembro de 2014

Quando a fome e a sede apertava..., por Paulo Lopes

 
Em estilo de comentário e resposta a este ultimo comentário do amigo José Capitão Pardal.

Não estava na cabeça do capitão Salvado, nem na nossa, presumo eu, voltarmos ao terceiro objetivo o qual tínhamos deixado em chamas, mas num pensamento de estômago, talvez fosse melhor ir mesmo até lá.



Talvez conseguíssemos encontrar algo para mastigar.
Assim fizemos mas com o pressentimento de que, naturalmente, iríamos ter problemas com os seus habitantes se estes já tivessem regressado.
Arriscámos!

Não levámos muito tempo a chegar, felizmente continuava deserto e bastante desolador.

Um mar de cinzas e um cheiro intenso a queimado.
Factores que já não influenciavam a nossa forma de estar.
Procurámos o que pretendíamos e então foi um ver-se-te-avias: pela primeira vez comi mandioca acabadinha de ser extraída à terra.
Nada melhor!
Qual manjar de lagosta?
Maravilha de menu!
Descascar aquelas batatas pontiagudas e devorá-las como se estivesse a comer nabos crus era, naquele momento, um saboroso acepipe.
Uma delicia!
 

E a bebida meus senhores?
A bebida?
Havia que procura-la!
Ninguém melhor que os G.E. para a procurar.
Como aprendi com eles a sobreviver no mato!
Não foi fácil mas, la estavam elas!
Perdidas no meio da vegetação densamente fechada: raízes longamente penduradas na sua esplendorosa altura!
As lianas.
— Furriel!
É fácil!
Corta-se assim e assim e bebemos!
— Dizia um verdadeiro guerrilheiro do mato!



 
E assim fiz.
E assim bebi.
E assim bebemos todos!
Bastava cortar com uma catana, de um só golpe, em cunha e depois outro golpe mais abaixo trinta ou quarenta centímetros, direcionar um dos cortes a boca e aquilo que me parecia uma corda pendurada numa árvore começava a pingar um liquido de cor branca ligeiramente transparente.
Nada melhor!
Era liquido.
Um pouco espesso para água mas era liquido!
Sabia (digo eu agora) a resina mas era liquido!
Apenas pingava (comento eu neste momento) mas molhava-me os lábios!
Se por acaso ainda duvidasse, teria de desfazer essas duvidas e reforçar: se tenho de estar nesta guerra, se tenho de passar maus bocados, que os passe ao lado dos G.E. pois com eles aprendo a sobreviver nestes locais do fim da linha pois são eles que melhor sabem defender a sua própria vida.
E assim saciámos a nossa fome e matámos a nossa sede seguindo depois novamente para o local de espera.

Chegados de regresso ao local já quase familiar onde até a cama que tínhamos deixado continuava pronta a receber-nos para a estadia de mais uma noite.
 
Ficámos a aguardar silenciosamente que chegasse mais uma manhã, adormecendo com a esperança de que os nossos admiráveis e heróicos conhecedores da guerra nos enviassem os helicópteros que tanta falta lhes faziam para os seus perigosos combates de mesa ou, quem sabe, para uma destemida deslocação algures numa festa nocturna cheia de armadilhas, principalmente femininas!

In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
Paulo Lopes