domingo, 18 de janeiro de 2015

As comadres no dia a dia, por Duarte Pereira


Duarte Pereira‎
 
 
As comadres

EM ESPECIAL PARA OS NOSSOS AMIGOS DA PÁGINA DO FACEBOOK.
CONFESSEM QUE JÁ TINHAM SAUDADES NOSSAS.
COMO DEVEM SABER VEM AÍ UMA VAGA DE CALOR POR UNS QUATRO OU CINCO DIAS.
FOMOS AO BAÚ, TIRAMOS AS BATAS E CÁ ESTAMOS.
CHAMA-SE A ESTE OPERAÇÃO " DESHABILLER". ...

SIM, TIVEMOS DE EMIGRAR PARA FRANÇA, MAS SÓ CONSEGUIMOS LÁ FICAR UMA SEMANA.
APRENDEMOS ALGUMAS PALAVRAS.

"BAGUETTES" E OUTRAS MAIS PEQUENAS.
 

SÓ COM AS BATAS CONSEGUIMOS FAZER TODO O NOSSO TRABALHO NESTE CALORÃO DESTE NOSSO AMADO ALENTEJO.
AS NOSSAS CORDAS DA ROUPA SÓ TERÃO ESTE VESTUÁRIO.
QUEM PASSAR PELA NOSSA PORTA E AS VIR ONDULAR, RECORDARÃO OS DESCOBRIMENTOS E AS CARAVELAS QUE LEVARAM PORTUGAL A CONHECER O MUNDO.


REPARAMOS QUE LÁ FORA OS CÃES JÁ ANDAM TOSQUIADOS, OS GATOS TAMBÉM, É O TOINO NA SUA NOVA FIRMA DE "PEELING", ANDA A APROVEITAR OS PELOS PARA OS IMPLANTAR NO PEITO DOS PORCOS.
 

GOSTÁMOS MUITO DE VER A FOTO DO SR. JOÃO MARCELINO EM TRONCO NU, COM AQUELE MATULÃO AO LADO.
O TOINO AGORA ANDA COM UM OLHAR CURIOSO E INTERESSADO PARA AS GALINHAS.


ESTÁ TAMBÉM NO SEU ESPÍRITO, NEGOCIAR ALMOFADAS DE PENAS DE GANSO.


ASSIM OS DIAS VÃO "ESCORRENDO" COMO NÓS NA NOSSA AZÁFAMA DIÁRIA.


NOTA: CONTINUAMOS A ACEITAR CONVITES DE MEMBROS PARA O NOSSO FACE PARTICULAR.

NÃO SE ACANHEM- BEIJINHOS.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

ESPIONAGEM: Olhem o que eu encontrei, do nosso amigo...


NO 4608 051 1114
Armando Guterres

Do 1.º turno 71 de Santarém, seguido de especialidade de Atirador de Cavalaria, também em Santarém.

Andei por Santa Margarida, tendo tirado um pequeno curso de Minas e Armadilhas em Tancos.

Formação do Batalhão de Cavalaria 3878, integrei a CCav 3507....
 
Embarcámos no Figo Maduro a 09/02/1972 para a Beira - Moçambique.
 
A 10/02, em voo fretado à DETA, para Porto Amélia, onde dormimos.
 
A 14 ao nascer do dia, entrada em Macomia onde nos esperava a CCS do nosso Batalhão e os nossos VCC que nos levaram para a Mataca.
 
A 15 voltámos a Macomia com os velhinhos e regressámos à nossa casa emprestada por 25 meses.
 
Primeira coluna, realmente sós, a 17/02 tendo o baptismo com mina e emboscada.
 
Nas férias de 73 estive em Quelimane, Beira e Lourenço Marques, com fugas a Morrumbala e a Catembe.
 
Fui rendido na ponte Muacamula no início de Março 74.
 
Chegada ao Figo Maduro a 21/03/1974.
 
Em 2012 fomos 7 em viagem de recordação a Maputo, Pemba, Macomia,Mucojo e Chai.



Gosto ·  ·

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Que dança macabra, por José Capitão Pardal

 

 


Devo ter estado ali (Hospital de Mueda), para onde fui evacuado, em Março de 1973, após ferimento grave, no qual recebi os primeiros tratamentos.

Ali terei estado durante um dia e uma noite.
Como estava (ferido e com morfina), nem me lembro se lá estive...

Depois meteram-me numa maca manhosa, atiraram-me para um Dakota da 2ª guerra mundial, junto com outros feridos e mortos em caixões e com um cabo enfermeiro a acompanhar aquilo tudo, que durante o trajeto nunca mais vi...

Aquele ferro velho batia por todos os lados e quando se inclinava, os caixões e as macas com os feridos misturavam-se, numa dança macabra difícil de descrever...

Até que chegámos ao Hospital Militar de Nampula, onde durante os quase 5 meses que lá estive fui sujeito a várias cirurgias.
 
Após esses quase 5 meses, ainda com dificuldade em mover o punho esquerdo, com uma cicatriz lombar não totalmente curada e sem saber que o estilhaço da mina me tinha afetado em definitivo o rim direito, fui recambiado para a guerra, sem qualquer restrição.
..............
 
 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

QUANDO UM ATAQUE (De morteiro) SE TRANSFORMA EM REGOZIJO, por Paulo Lopes

Paulo Lopes
 
Tal como prometi e pedi desculpa ao nosso estimado amigo Rui Briote pela antecipação, aqui vai o meu documento para desespero de alguns críticos escondidos que não gostam de partilhar as "desventuras"!
 
QUANDO UM ATAQUE
(De morteiro)
SE TRANSFORMA EM REGOZIJO
 
Quarta-feira, dia 8 de Agosto de 1973.
 
Estava na hora, mais minuto menos minuto, dos nossos olhos não darem tréguas ao horizonte possível tentando avistar a silhueta do avião milagroso que colocava sorrisos nos nossos rostos ansiosos de carinhos concentrados nos envelopes.
Tudo pronto.
 
 
 
Segurança habitual na pista com os homens destacados metidos nas extremidades junto ao inicio da densa floresta.
Pessoal a postos para retirar o conteúdo do avião (principalmente o saco do correio).
 
Ele ai estava.
Ainda a uma distancia longa mas já de possível visão lá vinha ele em direção a nós.
 
Passou uma vez.
Bandeira verde desfraldada —sinal significativo de que tudo na pista estava apto para a aterragem— O piloto fez uma segunda passagem por cima de nós antes de se fazer à pista, o que não era normal. Estranhamos.
 
A avioneta ainda tinha os seus pequenos motores a funcionar quando começamos a ouvir, ao longe, o ruido característico e bem conhecido dos nossos já experimentados e alertados ouvidos: a saída do disparo de morteiros.
 
 
 
Os rebentamentos não tardaram.
As granadas de morteiro, que eram sempre disparadas a longa distancia, como estávamos situados num planalto, a visão de quem disparava não daria grande exatidão do local da queda destas, não só devido a tal exagerada distancia entre nós e o local de proveniência dos disparos como também a visibilidade que era quase nula a meia-dúzia de metros, deixando antever o que seria a distancias muito mais extensas.
Por isso como sempre ou quase sempre, caiam a cerca de um quilometro o que também, como sempre ou quase sempre, fez com que não nos mostrássemos muito preocupados com a situação apostando na sorte e esperando que desta vez não fosse diferente de outras.
 
Os homens lançaram-se à descarga do avião!
Surpresa!
A resposta à nossa estranheza da anormal segunda passagem do piloto vinha dentro do avião: o nosso comandante do batalhão!
 
A segunda passagem pela pista deveria ser uma tentativa de aviso por parte do piloto à qual nos não demos devida atenção e compreensão a esse sinal codificado.
Apenas deveria querer dizer: Portem-se bem que temos graúdos a bordo!
 
Tarde piou e como o portarem-se bem incluía o devidamente fardado... escrita borrada!
 
A demonstrada passividade e indiferença aos, para nós "mataquenses", rebentamentos que deflagravam ainda bem longe da pista, foi a pincelada final para tamanha borradela na pintura.
 
Desconheceu-se qual a razão de tão ilustre visita a estas paragens do fim do mundo povoadas por seres com parecenças de militares —esquecidos para umas coisas, lembrados para outras— sem um aviso prévio e formal para um recebimento condigno duma alta esfera do nosso exercito!
 
Provavelmente, e aposto fortemente nessa hipótese, vinha apenas de passagem e a caminho de Macomia!
 
O certo é que o homenzinho nem pôs os pês em terra firme!
 
Foi descarregar o material de qualquer forma e ai vai ele pista fora, tomar balanço e até quarta-feira se isso for possível!
 
E não foi pelo piloto que tamanha pressa foi ordenada!
Nem sei como foi possível ou autorizada a descarga do material!!!
 
Então, aquele súbito ataque longínquo de granadas de morteiro que deveria ter sido tomado como uma preocupação, transformou-se num completo regozijo!
Toda a minha gente ria a desgarradas gargalhadas e mesmo aqueles que porventura não tivessem achado graça, contagiados pelo ambiente, foram forçados a espalhar também os seus sorrisos!
 
Se, por acaso, os que há minutos atrás nos estavam a oferendar as morteiradas nos ouvissem em tal risota e pensassem que era pelo facto da tentativa de ataque ser tao frustrada, ficavam de tal forma envergonhados que nunca mais pegavam num morteiro!
 
Nunca o comandante do batalhão deve ter tido tão grande oferta de diversificados títulos do reino animal num monologo de intensa cultura!
A quem nós, meninos inexperientes da guerra, estávamos entregues!
 
O pior veio depois, e principalmente para o capitão, que ainda não deveria estar sossegadamente sentado a rasgar os envelopes das cartas com a emoção habitual e comum em todos, fazendo esse ritual como se fosse sempre a primeira carta que recebíamos e já o comandante do batalhão estava, via radio, a dar-lhe nas orelhas!
 
 
Terminada a leitura das apetecíveis cartas viessem elas de quem viessem, fomos saber das outras novidades, as mais próximas, as do fugitivo.
Então contou-nos o capitão que o homem lhe disse que estávamos mal instruídos.
Que existia entre nós uma total indisciplina de combate.
Uma completa anarquia imperdoável a quem tinha deveres militares.
Fardados duma forma mais propicia para um bando de foragidos e que mais assim e que também e ...
 
Terminou a conversa com um encolher de ombros e nós também não nos preocupamos muito com o assunto.
 
É capaz de ter razão, o senhor!
O que nós deveríamos fazer era seguir o exemplo dele e ao primeiro tiro fugirmos... de avião e para a nossa terra.
Para a nossa família.
Para fora daquela miserável vida a que este e outros senhores nos obrigaram e que agora e sempre nos criticaram e caluniaram.
 
in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
 
 
paulo lopes