sábado, 26 de novembro de 2016

A minha G3..., por Duarte Pereira


NOTA PRÉVIA.
ESTE ARTIGO "A G-3", NÃO É PARA TENTAR DIMINUIR OS OUTROS EX-COMBATENTES, QUE LUTAVAM COM OUTRAS ARMAS PARA O BEM COMUM.

UNS ESTARIAM MAIS EXPOSTOS.
PODERÁ TER SIDO O "DESTINO", OS QUE, ACREDITAM E ACREDITARAM NELE, QUE TERÁ MUDADO AS NOSSAS VIDAS.

A MINHA G-3



EM SANTARÉM ANDAVA COM UMA G-3 QUE PASSOU MAL...
CHUVA, ESGOTOS, RIACHOS, POEIRA, CALOR DE VERÃO.

DISSERAM-ME QUE A G-3 TERIA DE SER TRATADA COMO UMA MULHER.

HAVIA INSPEÇÕES PERMANENTES À SUA MANUTENÇÃO.
MUITO ÓLEO E ESCOVILHÕES PASSARAM POR ELA.

A QUE ME FOI DISTRIBUÍDA NUNCA RECUSOU UM TIRO.

FUI MOBILIZADO. 
NÃO SEI SE LEVEI A MESMA.
ERA VELHINHA. 
JÁ DEVERIA TER FEITO UMAS COMISSÕES.

EM SANTA MARGARIDA OU JÁ EM MOÇAMBIQUE FIZ UM CONCURSO DE TIRO AO ALVO.
CLARO QUE GANHEI. 
FIQUEI EM TERCEIRO. 
GANHOU O AMÉRICO COELHO QUE JÁ USAVA ÓCULOS. 
EM SEGUNDO O FERNANDO LOURENÇO. 

A CORONHA DA G-3 DO AMÉRICO COELHO ACHO QUE ERA PRETA.

EM MOÇAMBIQUE CONTINUEI A TRATÁ-LA COM CARINHO, ASSIM COMO AS MINHAS BOTAS.

NOS LONGOS DIAS DA OPERAÇÃO OMO1 NA SERRA DO MAPÉ, CHEGUEI AO FIM COM CANSAÇO MAS OS PÉS ESTAVAM BEM.



SEMPRE INCUTI NOS SOLDADOS A MEU CARGO A MINHA EXPERIÊNCIA.
MUDEM OU NÃO MUDEM DE CUECAS. 
TENHAM CARINHO COM A VOSSA ARMA.
ANDAVA TRISTE COM O MEU 3º LUGAR NO CONCURSO DE TIRO AO ALVO.

A CONSTRUÇÃO DA ESTRADA MACOMIA/MUCOJO ABRIA CLAREIRAS DONDE TIRAVAM A TERRA PARA A NOVA ESTRADA.

NÃO ME LEMBRO, MAS PENSO QUE DE TRÊS EM TRÊS MESES RENOVÁVAMOS AS MUNIÇÕES DOS CARREGADORES.

AVISÁVAMOS MACOMIA QUE IRÍAMOS FAZER FOGO.



UM DIA SOZINHO "COMO EU ERA CORAJOSO" FUI PARA O ALTO DE UMA TERRAPLANAGEM E COLOQUEI UMAS LATAS DE CERVEJA LÁ NO MEIO.
NÃO POSSO CONFIRMAR SE ERAM 50 M. OU 100 M OU MAIS...
COLOQUEI A ALÇA DE TIRO NO BURAQUINHO DOIS. 
FIQUEI FELIZ. 
AS LATAS VOAVAM. 
PODIA ATÉ NÃO ACERTAR. 
COM O IMPACTO NA TERRA, ELAS ABANAVAM E CAIAM. 
O MEU AMOR PRÓPRIO TINHA VOLTADO DEPOIS DAQUELE VEXAME DO CONCURSO DE TIRO.

QUANDO ENTREGUEI A G-3 NA BEIRA, TIVE DE A ATIRAR PARA UMA MOLHADA. 
CONFESSO QUE NA ALTURA NÃO CHOREI E NEM SEQUER FIQUEI COMOVIDO.
MAS É O QUE ME ACONTECE AGORA QUANDO LEMBRO AQUELA CENA.
NÃO SEI SE ELA ME DEFENDEU? EU DEFENDI-A.

ALGUÉM QUE A SEGUIR A MIM A APANHASSE PODERIA TER A CERTEZA QUE ESTARIA EM BOAS CONDIÇÕES.

NÃO FOI UM "DIVÓRCIO", GOSTARIA DE A TER TRAZIDO PARA CASA E FICAR AO LADO DE UM STICK DE HÓQUEI EM PATINS QUE GUARDO RELIGIOSAMENTE.
VOU COM ESSE STICK À PORTA QUANDO ALGUÉM BATE À PORTA A PARTIR DA 1 HORA DA MANHÃ.

MORAL DA HISTÓRIA: PROCUREM TRATAR BEM OS DE QUE POSSAM VIR A DEPENDER ( OU NÃO ).

Paulo Lopes Até acredito que tenhas tratado bem da tua "G3" mas, de forma alguma posso acreditar que tenhas tratado da mesma forma o teu "stick" de hóquei já que apenas te serviste dele para andar à "marretada" numa bola!!
Pois eu também, em ocasiões espaçadas, gostaria de ter a G3 em meu poder (apesar de ser só garganta e provavelmente só mesmo em casos de extremo instinto de defesa é que a utilizaria! 
Mas que existem alguns que bem precisavam de experimentar, lá isso há!). 
Mas, foi um enorme prazer abandonar essa amante do ultramar!
Quanto à pontaria com a G3 e em semi-automático, estariam os alvos à vontade comigo até porque, salvo erro, o cano era de estrias o que originava uma saída de bala aos círculos! 
E não posso colocar de parte que eu era da secção de dilagramas! 
A arma que segundo afirmavam os "canhanhos lá de Tavira" que eu fiquei muito bem classificado, foi a HK21.
Moral da "minha" história: não sirvo para militar!

Américo Condeço A minha história com a G3 já foi contada há muito tempo atrás, mais propriamente com a coronha da dita cuja, mas a minha guerra era outra e a menina só servia para fazer aquele fogo na carreira de tiro para desenferrujar o cano e queimar munições que não estariam em condições, como disse a minha Guerra era outra a SAÚDE de todo o pessoal, VACINAÇÃO trimestral de toda a gente contra a cólera , distribuição semanal de antipalúdicos e a assistência médica e medicamentosa aos enfermos que aparecessem, lembro-me que por força da minha especialidade assisti a alguns partos efectuados no hospital civil que existia em Macomia, e de um em especial pois implicou uma evacuação quase ao anoitecer de uma parturiente negra que estava há já dois dias para ter a criança e já não tinha forças para ajudar a mesma a nascer, avião na pista parturiente lá dentro e avião no ar, imediatamente o piloto informou que a criança tinha nascido ainda o avião não tinha acabado de subir, ordens dadas pelo Dr. voltem para trás nós tratamos do resto, o rapaz era bem grandão creio que com 3K e 900 Gramas e tudo acabou em bem.

Luís Leote Tive uma má experiência com a minha G3 a disparar um dilagrama.
Coloquei a minha mão esquerda no guarda mato mas de forma imprópria. A membrana que liga o polegar ao indicador, ficou entalada entre o guarda mato e a estrutura da arma, e no momento do disparo, rasgou a m.... da membrana.
Ao princípio ñ senti nada, mas depois senti a mão molhada e pegajosa.

Luís Leote A minha Companhia teve alguns percalços na campanha, mas tivemos muita sorte em não escrever nenhum nome na nossa pedra

Gilberto Pereira NÃO POSSO COMENTAR PORQUE NÃO SEI O QUE É "G3".

Livre Pensador Infelizmente a minha companhia deixou 6 nomes escritos numa qualquer pedra!

Luís Leote Livre Pensador, Ribeiro infelizmente, não posso gostar do que disseste mais acima.

Gilberto Pereira OBG QUEM É QUE IRIA GOSTAR, SÓ UM LOUCO

Livre Pensador Eu também não amigo Leote, até porque alguns deles gravaram o seu nome nessa pedra quando estavam ao meu lado e, portanto, podia até ter sido o meu nome a ser gravado. Ribeiro.

Luís Leote Podia ter sido o teu nome a ser gravado, mas, ficou-te gravado na memória até hoje!!!

Gilberto Pereira É PÁ DEIXEM-SE DESSAS MERDAS QUE ATÉ PODE DAR AZAR !


Fernando Bernardes eu lembro que recebemos a G 3 completamente nova dentro de um saco plástico na Beira.

Armando Guterres mas sem balas ... essas chegaram em Porto Amélia antes de subirmos para os carros de (gado) no meu caso.

Fernando Bernardes É verdade Armando Guterres recebemos as munições em Porto Amélia e fomos sempre a fazer fogo até Macomia e depois até ao Chai.


terça-feira, 15 de novembro de 2016

Recordo na minha infância..., por Marília Dis Savtos

Recordo na minha infância, de ir lavar as roupas com a minha mãe, nas ribeiras ou albufeiras (estes espelhos de água puras e cristalinas, reflectiam as sombras ...das árvores).

Um grupo mulheres cantava, ao desafio, enquanto iam ensaboando roupa nas pedras, que metiam a corar, nos pastos do chão, para branquear.
 

Depois de lavados, os panos, eram por ali estendidos ao sol nos arbustos e árvores, pareciam, bandeiras hasteadas ao vento, davam um ambiente colorido ao campo...
 

Estas albufeiras, contrastam, com as zonas de grande secura (zona dos montados e olivais, parecem pequenos oásis), onde a vida parece florescer….
Lugares mágicos, que ficam nas bordas das ribeiras e albufeiras.


Quando era pequena gostava de brincar, nos campos com as outras crianças….
Ah, nestes tempos não havia perigos de nada, para as crianças, havia respeito entre os seres humanos.
Nem existiam medos de coisa alguma, Deus protegia os inocentes.
Também não existia poluição, nem nas águas nem nos lençóis freáticos, eram águas puras e cristalinas das fontes.
Que delicia poder saboreá-las!

Sabia-me, bem escutar o silêncio da noite nos campos do Alentejo.
Sentia paz interior.


Agora recordo tudo isto no palco das recordações da minha infância.
O Alentejo genuíno da imensidão das planícies….

domingo, 13 de novembro de 2016

Estás mobilizado Lopes..., por Paulo Lopes


a
Comentários



E no meio desses azares todos, longe, muito longe, estava eu descansado, como quase sempre:

...Foi num dos momentos de lazer, quando esperávamos quórum suficiente para mais uma tarde de jogo de futebol de 5, que o Comandante da Companhia, também ele apreciador de um bom jogo de futebol ou de qualquer outra actividade desportiva que metesse bola, chegou para aumentar o numero que fosse o ideal para iniciar a partida e me informou, com simples palavras calmas e duma frieza extrema sem transparecer qualquer hesitação no discurso de parcas palavras e sem nenhuns rodeios, colocando o braço sobre o meu ombro, num semi-abraço:
— Estás mobilizado Lopes. Vais para Moçambique...

Formou-se um silêncio longo e escuro que me abraçou suavemente. 

Um abraço com a duração de um instante parecendo-me uma vida. Vida que nesse momento me colocou em solidão, adormecido no tempo e no local, esquecido do presente, transportando-me para outro mundo, desconhecido no meu horizonte. 

Acordou-me a bola que bateu perto de mim...
Por estranho que pareça, não deixei de, briosamente, defender a baliza que estava à minha guarda e creio que nem o capitão o autorizaria e afinal, nada estava a acontecer que estivesse a fugir à normalidade. 

Apenas mais um seguiria para o Ultramar. 
Mais um número para informar o quartel de Adidos, em Lisboa, na Ajuda, para prepararem a partida. 

Afinal, o que perdiam ali no quartel de Beja era apenas o guarda-redes da equipa de futebol de 5 e não havia outro. 

Tinham de pensar em arranjar. 
Que chatice... 

Depois da missão desportiva cumprida e banho tomado, vestido como um militar, lá fui eu à secretaria saber mais pormenorizadamente do meu futuro, militarmente falando.
...
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

domingo, 6 de novembro de 2016

Mataca, onde é que isso fica..., por Paulo Lopes





Aproveito para dizer que a única parte que jeito tenha do texto que o amigo Jose Capitao Pardal relembrou aqui, é o que não existia: as fotos!

Obrigado Pardal só que, com isso e ao ver o campo de futebol de Porto Amélia, fez com que volte a incomodar a
s hostes com mais umas palavrinhas do dito livro (que o não é):

Na Beira, depois daquelas burocracias habituais e extremamente aborrecidas de fazer, soube quando partiria para Porto Amelia, no distrito de Cabo Delgado.



Para mim, completamente desinformado da geografia Africana, tal nome nada me dizia, mas como o mal logo se sabe, fiquei esclarecido e para que constasse, Cabo Delgado era um dos principais distritos do norte de Moçambique onde a guerra estava bem implantada.
Começava a acordar de vez!
Mas que poderia esperar um atirador?

Três dias depois, aterrava no Aeroporto de Porto Amelia, capital do distrito de Cabo Delgado.

Entre apresentações e avisos do que havia a fazer, depressa fiquei conhecedor do meu pouso definitivo: — MATACA, junto à Serra do Mapé.



Restava-me saber quando e como iria.
Ninguém me deu agradáveis noticias de tal paradeiro: Uns não conheciam tão pouco Mataca mas da dita Serra, não me auguravam nada de aceitável.
Outros diziam que era no meio do nada e simplesmente faziam uma careta expelindo dos seus lábios um enorme "chiiiiiiii", alguns, os mais conformados, diziam que era igual a tantos outros aquartelamentos espalhados pelas matas de Cabo Delgado.
Fiquei a saber o que já sabia...nada!

Vinha munido da morada de uma amiga que morava em Lisboa precisamente na minha rua e que tinha vindo procurar vida nova exactamente para Porto Amélia.
E então, assim que me vi livre dos meus deveres militares, tal provinciano chegado a uma grande cidade, sem conhecer nada nem ninguém, ai fui eu a procura do paradeiro da minha amiga de infância.

Felizmente para mim, Porto Amélia não era nenhuma grande cidade (até bem pequena) e foi fácil localizar o destino a que me propus.

Ela era professora no liceu de Porto Amélia e ele, o marido, além de trabalhar na fabrica de cerveja, treinava a equipa de basquetebol da terra e, talvez por isso, estava bem relacionado com civis e algumas altas patentes militares a quem me foi apresentando aos poucos.

Através dele, fui fazer um treino de captação na equipa de futebol de Porto Amelia, com o alento despoletado por falsa esperança vinda do marido da minha amiga, que isso me levasse a ficar por lá.



De todo impossível!
As cunhas não funcionaram, o que não era de estranhar, e como eu não apresentava assim tanto jeito para dar uns pontapés na bola que desse uma mais-valia a equipa da terra... tinha mesmo de ir para as trincheiras da guerra.





........
In "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes

Moura - Onde se fazia azeite, mulher não entrava, por Sara Pelicano, com comentários de Horácio Cunha


A casa grande de um só compartimento.

Um longo corredor.

Ao fundo duas enormes alavancas, criadas com traves de madeira.

Correndo todo o corredor, as tulhas, pequenos compartimentos de alvenaria, para armazenar a azeitona.

O Lagar de Varas do Fojo, em Moura, hoje museu, conta uma história antiga.


No decurso de um século ganhou vida a cada Outono, na época da apanha da azeitona.

Sara Pelicano | quarta-feira, 26 de Agosto de 2009
In Café Portugal
As oliveiras salpicam a extensa planície do baixo Alentejo.
A árvore de pequeno porte oferece sombra sob o quente verão; um repouso entre uma tarefa e outra na manutenção do campo.
As oliveiras resistem a mais um estio.
Nas ramadas o seu fruto, a azeitona, amadurece lentamente.

Por agora os lagares estão vazios.
O dia-a-dia no campo faz-se, entre outras actividades, com a apanha do melão.
Quando o Outono começar a despertar, então os campos de oliveiras enchem-se de gente na apanha da azeitona.


Então, com a lua ainda reinante, ruma-se ao olival.
O dia vai ser longo e duro.
Estendem-se as redes sob as oliveiras.
Bate-se com varas nos ramos para o fruto, que dá origem ao azeite, ir ao chão.
Pausas só mesmo para saciar a fome com o farnel preparado no serão anterior.
Quando a noite voltar a cair, faz-se o regresso a casa.
O processo repete-se dia após dia.
Embora a mecanização seja já uma presença significativa nas produções olivícolas, há muitos produtores que continuam a recorrer à mão humana.
O cenário descrito continua, pois, a ser uma realidade em terras do Alentejo, permitindo a subsistência de muitas famílias.

Ao labor no campo seguir-se-á a actividade no lagar, etapa que concretiza a azeitona no fio de ouro que é o azeite.
Um processo que, em Moura, é explicado no Lagar de Varas de Fojo, convertido em museu desde 2001.

A vida no lagar
Entre 1810 e 1941 cada Outono trazia um sopro de agitação ao Lagar de Varas de Fojo.
Atualmente, o imóvel considerado de Interesse Público, guarda intactos os artefactos que contam histórias antigas.
Estes falam-nos de trabalho árduo; um lugar onde as mulheres não tinham entrada.

A aldeia de outrora cresceu e o Lagar de Varas do Fojo, antes em meio rural, localiza-se hoje numa avenida movimentada, dando acesso ao centro da cidade de Moura.


Recuemos no tempo até ao lagar do século XIX, início do século XX.
Com os primeiros carregamentos de azeitona desde os campos, a actividade passa a fazer-se entre paredes, no lagar.
Cada produtor de azeitona tinha uma tulha, identificada com o seu nome e um número, para armazenar a azeitona.

O Lagar era espaço comunitário, tendo o dono, direito a uma percentagem da produção como meio de pagamento pela utilização da estrutura.
Das tulhas onde eram depositadas, as azeitonas passavam para a moenda.
Esta fase servia para pisar a azeitona até se transformar numa pasta.
O fruto da oliveira era depositado numa estrutura redonda, fazendo lembrar um poço, mas com fundo à vista.
Três grandes pedras cilíndricas, como as rodas de um veículo, giravam, moendo a azeitona, puxadas pela força no burro.
Este era o único processo onde o esforço não saía de braço humano.


Da moenda, a pasta de azeitona passava para a enseirada, onde se encontram as varas que dão nome ao lagar.
As imponentes varas funcionam como alavancas, quando os homens fazem girar os parafusos que se encontram numa das extremidades.
«Após o enchimento das seiras, ou enseiramento, com a massa de azeitona, o lagareiro sobrepunha um conjunto de seiras sobre o estrado da prensa a que se dá o nome de algués.
Sobre as seiras ainda se colocava a porta e os malhais, sobre os quais iria assentar a extremidade mais pesada da vara», explica Isabel Costa, guia do museu.

Conta-nos a mesma responsável: «quando a extremidade oposta ao fuso baixa, exerce pressão sobre as seiras, fazendo-as libertar azeite e água-ruça.
Depois de escorridas as seiras, a vara subia novamente para que se pudesse proceder à caldeação». Deitava sobre as seiras água aquecida na caldeira.
O azeite e a água-ruça tinham caído para as tarefas.
Aqui, ao entrar a água, ia permitir que o azeite se separasse da água-ruça.


O processo era de extrema importância, pois era nesta fase que se definia grande parte da qualidade do produto.
«À tarefa para onde vai só o azeite dá-se o nome de tesoiro, ou pilão.
O azeite era retirado daí para outros recipientes, pelo lagareiro, com o auxílio de uma concha», comenta Isabel Costa.

No Lagar de Varas do Fojo a viagem no tempo em torno do azeite faz-se não só pela presença dos instrumentos de transformação da azeitona, mas também pela mostra dos utensílios utilizados no campo, como as cestas de transporte do fruto.
O núcleo museulógico expõe fotografias antigas que revelam expressões inseridas em momentos de trabalho de uma vida rural que, em certa medida, ainda podemos encontrar nos dias de hoje.




Por cá os lagares de azeite de varas eram idênticos e os passos de transformação da azeitona eram similares.
A diferença é que eram movidos a água e aí pelo Alentejo eram movidos por burros, segundo deduzo do texto.

Estou a relembrar tudo isso a funcionar.
Vários anos fizemos o azeite num lagar desse tipo.
Que trabalheira, mas muito salutar.

A lenha que previamente se levava, a fornalha sempre a arder, a água na caldeira sempre a ferver, as galgas a moer, as ceiras, as tarefas e o sangrar das mesmas, as varas e os fusos, o azeite a ser transportado em barris de madeira.

O suspender da laboração pela subida inesperada das águas do rio que passava paredes meias, o cozinhar a tiborna (batatas cebolas e bacalhau) tudo assado na fornalha - isto para os agricultores com algumas posses ou couves com batatas çhouriça e carne de porco para os outros.
Não havia travessas nem pratos.
Todos picavam da mesma gamela - a mesma em que se transportava manualmente a massa da azeitona já moída para as seiras.

O texto refere em titulo que "Mulher não entrava", mas não explica a razão.
Pois, dizia-se que, se uma mulher entrasse no lagar na altura do período menstrual, o azeite apesar de bem caldeirado, não clarificava.
Ficava sempre turvo.
A chamada borra, não se separava devidamente do azeite.
E pelo sim e pelo não, jogava-se pelo seguro - mulheres não entravam naquele local.
Enfim...era assim que se pensava naquele tempo....

Pronto, mais uma história doutro tipo de guerra, também com os seus sacrifícios.

Desculpem a seca, mas a culpa também é do nosso amigo Capitão Pardal, que nos leva a estes confins das nossas vivências...
Um abraço para todos vós.