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domingo, 12 de novembro de 2017

Ó Manel! cómer é tan bom e drumir???, por Armando Guterres

Armando Guterres 
para BATALHÃO DE CAVALARIA 3878
Ó Manel! cómer é tan bom e drumir???

Em 25 meses, vivi no aquartelamento da Mataca, no quartel de Macomia.

Dormi antes e depois de uma operação no Quiterajo.

Dormi muita vez na ponte Muagamula e poucas no Alto da Pedreira.

No mato da Mataca foram muitas noites, quase todas, bem sossegado.

E à cidade da Baía de Pemba fui cinco vezes levantar os dinheiros da companhia.

Abancávamos os quatro (um por companhia) na pensão Rosas.

Nas férias, sempre em casas particulares, de familiares e amigos.

Restou a primeira noite, no fundo de um corredor, em cima de um monte de colchões no quartel de Porto Amélia.


terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Faz hoje 42 anos (11/3/2016)..., por Livre Pensador

Boa noite.

Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 realizou pela 2ª. e última vez o trajecto Macomia - Ancuabe - Porto Amélia.


Após no dia anterior ter realizado o trajeto Chai-Macomia.


Faz hoje 42 anos que a Ccav.3508 se livrou definitivamente da guerra.





Faz hoje 42 anos que eu pude dizer (em Ancuabe) "PORRA ... DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!



Faz hoje 42 anos que eu vivi o dia mais feliz da minha vida.


quinta-feira, 27 de outubro de 2016

História do Chai XIII (1972/1974), por Livre Pensador


HISTÓRIAS DO CHAI (última)

Foi há 43 anos, no dia 14 de outubro de 1973, que o aquartelamento do Chai sofreu o maior ataque, cujos pormenores já aqui descrevi numa história anterior.
 





Esse ataque teve como reflexo imediato nos militares da Ccav. 3508, o despertar para o espírito de sobrevivência inerente a qualquer ser humano.
 
 
 
Todos nós tínhamos passado por imensos sacrifícios à custa de sangue, suor e lágrimas nos 20 meses de comissão cumpridos até essa altura.
 
 
Após tanto sof...rimento era nosso direito usar de todos os meios possíveis para sair vivo daquele inferno.
 
E foi com esse desejo que se enveredou por uma estratégia de defesa e segurança absolutas até ao dia em que fossemos rendidos.
 
 
Todos os dias, pelas 16,30h e até ser noite cerrada, eram ocupadas as posições de defesa do quartel.
O mesmo sucedia desde as 4,00h da manhã até ao nascer do sol.
E assim fomos vivendo em completo stress até ao dia 10 de março de 1974.
 
Foi esse o dia em que deixámos o Chai entregue à 2ª. Ccav. do Batalhão de Cavalaria 8422.
 
 
 
Os 40km que nos separavam de Macomia foram feitos passo a passo, com a observação atenta e minuciosa de todos os pontos ou locais que pudessem originar surpresas.
Felizmente chegámos ao destino sem qualquer contratempo.
 
Foi em Macomia que a Ccav. 3508 dormiu a noite de 10 para 11 de março de 1974, sendo por isso a última em zona de guerra.
 
Ao raiar do dia 11 partimos de Macomia com destino a Porto Amélia escoltados pelo Esquadrão de Cavalaria.
 
 
 
Chegados a Ancuabe (zona considerada sem guerra) as explosões de alegria não se fizeram esperar. 
 
Eu vi militares a gritar, a saltar, a chorar, a rezar, abraçados, etc, etc.
 
Por mim, apenas consegui pensar "PORRA DE GUERRA JÁ NÃO MORRO"!
 
 
 
Por isso mesmo ainda hoje considero o 11 de março de 1974 como sendo o dia mais feliz da minha vida!
 
Naquele momento todos passámos a ser heróis, apenas e tão só por termos saído vivos (mas não incólumes) dum inferno que nos arrasou durante cerca de 25 meses!
A FELICIDADE E A ESPERANÇA RENASCIAM PARA SEMPRE!


 
José Guedes Livre Pensador, ( Ribeiro ) é sempre bom recordar os bons e maus momentos que por lá se passaram, mas o mais importante deve ser o dia em que deixa-mos o local de guerra para trás e chegamos a locais mais confortáveis e sabermos que o dia do regresso estava para breve e como é bom que depois de tantos momentos difíceis que por lá se passaram ainda hoje podemos estar aqui a compartilhar isto uns com os outros,.. um abraço
 

 
Fernando José Alves Costa Livre Pensador ( Ribeiro) fizeste-me chorar de alegria, senti e vivi o grande alivio que todos vós sentiram o mesmo acontecendo com quase todos nós que por Ancuabe passaram. Abraço
 

 
Armando Guterres E a Mataca tão longe do Chai.
Depois de entrar numa viatura em Macomia - entrei em férias até umas boas horas em Porto Amélia ...
O caminho até lá !!!!
 

 
Rui Briote Esse sentimento de alegria infelizmente não o tive, mas imagino o estado de Alma de todos os que regressaram bem. Mais não digo, pois a minha vida foi e continua a ser um reflexo duma guerra inútil ...abraço a todos
 

 
Paulo Lopes Inútil (e não só) para nós meu amigo Rui Briote, porque alguém se governou bem com essa guerra, antes e até depois dela ter terminado.
Muitos andam por aí com grandes vidas à conta de outras perdidas!
 
 
Paulo Lopes Finalmente chegou! Finalmente a ansiosa mensagem que estava em nosso poder.
As datas confirmavam-se: chegada à Mataca da nova companhia a 2 de Março.
Saída da nossa companhia para Macomia e desta para Porto Amélia, a 12 de Março.
Viagem de Porto Amélia para a Beira a 16 de Março.
Partida da Beira para Lisboa, a 20 de Março.
Difícil descrever a alegria derramada quando a notícia, inevitável e trasbordantemente foi espalhada por aquele tão pequeno espaço que nos oprimia.
Nem mesmo, para nós tão preciosa como a vida, a chegada do correio nas quartas-feiras se sobrepunha a tamanho contentamento.
Nada que tivesse acontecido nestes meses infinitamente longos que, ocasionalmente, nos trouxesse um pouco de alegria, se aproximava de tanto mar de regozijo.
Estava perto o dia de voltar a abraçar os pais, filhos, esposas, amigos e eu sei lá o quê...
 
Estava perto o fim do pesadelo !
Sabia de antemão que eu, o capitão S....... e um dos primeiros-sargentos não embarcaríamos para a Metrópole na data que agora estava prevista, mas a nossa alegria, pelo menos naquele inesquecível momento, tinha o mesmo sentir e sabor da restante companhia.


Não seguiria na mesma data porque cheguei a este inferno de almas perdidas um pouco mais tarde que os restantes e havia que fazer todo um processo liquidatário e como tal, como seria lógico, caberia a mim, como sargento mais novo, auxiliar a essa tarefa burocrática.
Processo esse em que nem eu nem o capitão sabíamos bem qual a nossa missão, mas para nos dizer o que era preciso fazer estava lá o tal primeiro-sargento.


Pois que venha lá essa coisa de processo liquidatário!
O importante, para já, é que estávamos de partida.
Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
 
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados e desprovidos de qualquer conhecimento do que os esperava, das aflições com que esta selvagem floresta de terrenos sinuosos os iria atormentar e que decerto lhes iria provocar um sentimento de revolta e ódio a quem os mandou para ali!
 
Os que iriam ficar poderiam proporcionar-lhes, sem dúvida, uma melhor condição do saber estar e de como agir mas, de forma alguma, lhes garantiriam uma fácil estadia nem poderiam transformar Mataca na cidade ou vila de onde foram arrancados e muito menos devolver-lhes os intermináveis meses de vida de que estavam a ser espoliados!


Ainda faltava tempo.
Tempo esse que apesar de ser mais animoso, continuava a ser imensamente difícil de passar se não talvez, ainda mais complicado: cada minuto era uma eternidade, mas havia no ar um calor diferente.
 
As situações difíceis tornavam-se mais fáceis.
A tolerância e compreensão eram mais notórias.
Assistia-se a uma transformação, a uma fuga à saturação!
Todos os rios de conversas desaguavam no mesmo mar: a chegada dos checas e a nossa partida.
 
Todos nós inventávamos o já anteriormente inventado pelos antecessores dos antecessores, as patranhas para pregar aos coitados, qual praxes estudantis.
 
As nossas mentes, os nossos olhos cerrados, já os viam caminhar pela picada que os faria entrar pelo velho portão de arame farpado!

in "Memórias dos Anos Perdidos ou a Verdade dos Heróis"
paulo lopes.
 

 
Livre Pensador Amigo Paulo, uma vez mais obrigado por este belo excerto das tuas memórias. Abraço.
 

 
Paulo Lopes Abraço amigo mas não se comparam com as tuas que são bem melhores! Bom fim de semana amigo!
 
 
Manuel Cabral Paulo Lopes a propósito desta parte do texto "Havia o alferes e os dois furriéis que tinham chegado ainda mais tarde, muito mais tarde, mas esses ainda não tinham cumprido nem metade da comissão e por isso iriam ficar integrados na companhia que nos viria render.
Uma triste e má notícia para eles mas, sem dúvida, uma mais-valia para os próximos e infelizes guerrilheiros que, tal como nós, chegariam de olhos completamente tapados "
 

 
Manuel Cabral Eu fui um dos que ficaram na nova companhia, e juro que nunca sofri tanto como nesses primeiros dias da companhia checa...
 

 
Manuel Cabral A primeira coluna que fiz com eles foi de Macomia para o Alto da Pedreira.
Pois toda a coluna saiu do cruzamento de Macomia aos tiros, e quando chegámos a um pequeno povoado, logo ali à saída, só eu e os dois soldados que iam ao meu lado (porque eu não os deixei ir na onda!) tínhamos balas no carregador... todos os outros tiveram que proceder a sua substituição...
 

 
Manuel Cabral foram uns meses muito complicados, até conseguir ir de férias... mas já contei essas aventuras noutro lado...
 

 
Paulo Lopes Compreendo-te perfeitamente amigo Manuel Cabral.
 
 
Duarte Pereira Mais um bom texto do Ribeiro.  
Pena eu não ter tomado umas notas.
Deve ter sido matéria dos aerogramas, para a Isabel, mas queimei-os todos.
 

 
Duarte Pereira O artigo do dia .
 

 
Jose Capitao Pardal Livre Pensador, já na cidade da Beira ouvi uma história de que eventualmente não iriamos partir para a Metrópole na data marcada, porque tínhamos de ir ainda para qualquer lado, mas só o Jose Ribeiro (alferes que nesse local estava à frente da companhia) e o Fernando Carvalho (o outro graduado do meu pelotão) é que poderão esclarecer o que se passou realmente, fruto da lamentação do primeiro para nós os dois...
 

domingo, 23 de agosto de 2015

O Machado, por Bernardino Cassiano

 
 
Aqui vos deixo o relato do Bernardino Cassiano sobre o Machado, vagomestre, no "PICADAS DE CABO DELGADO":
 
"Furriel vagomestre Manuel Fernando Monteiro Machado, NM 07179871, apresentou-se na CCaç 4243/72, em 9-mai-73 em diligência, passando posteriormente para o seu Q.O. 

Aquela data a CCaç 4243/72, estava sitiada em Muidine, dependendo operacionalmente do BArt 3876, com comando em Nangade, e tendo como missão principal manter a picada entre a Namioca e Nangade, transitável para a coluna da Operação Fronteira Palma - Nangade.

Em set1973, a CCaç 4243/72, foi transferida para o sector de Porto Amélia, como companhia operacional do BCaç 14.

O furriel Machado integrou-se perfeitamente na CCaç 4243 e em Muidine também não podia na "hora maconde" estar sempre com as cervejolas, pois este precioso líquido rareava em Muidine.
 
Quando rodamos para Porto Amélia, poderia o furriel Machado, ter ficado nesta cidade, mas praticamente esteve sediado em Ancuabe e Megama (na estrada de Montepuez).
 
Também não tenho conhecimento que tenha "enriquecido".
 
Regressou à metrópole em 12outubro74 integrando a CCaç 4243/72.
 
Nunca falamos do seu passado em Macomia e tenho algumas fotos com o Machado.
 
Presentemente tem aparecido nos encontros anuais da CCaç 4243/72.
 
Aqui vai o seu endereço eletrónico : mfmachado1750@gmail.com.
 
Na foto, tirada em Muidine, pode-se verificar que o furriel Machado(o primeiro à esquerda) se encontrava integrado e já um "operacional" com a sua G3".

Foto de Bernardino Cassiano.



Foto de Jose Capitao Pardal.


 
 

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Estrada Nacional 243 - Estrada Maldita?..., por José Capitão Pardal

 
 
 
Estrada Macomia - Monte dos Oliveiras - Chai
 
Esta estrada, era a célebre estrada que ligava Maputo (Lourenço Marques) e Pemba (Porto Amélia) a Mocímboa da Praia, passando por Macomia e Chai, que os "iluminados grandes chefes guerreiros" de gabinete, no início da década de 70, do século passado, projetaram como sendo uma estrada alcatroada-

Estrada alcatroada essa (nacional 243) que a partir de Ancuabe (alguns quilómetros após Pemba) para norte, de alcatrão tinha pouco.
 
Não passava de uma reduzida folha, que cortada apenas com uma catana e soldada com um pouco de fogo, permitia encobrir as minas colocadas, inclusive da equipa de picadores, que por mais astutos que fossem tinham dificuldade em as detetar...
 
E foi nesta estrada maldita que a 21 de Março de 1973, a poucos metros do Chai (muito próximo do aldeamento), uma mina me mandou, a mim e a mais 3 companheiros gravemente feridos, para o Hospital Militar de Nampula, durante quase 5 meses.
E ao fim desses 5 meses, ainda não totalmente reestabelecido, fui mandado novamente para o "mato".
Nessa altura começava a faltar a "carne para canhão".
Esses ferimentos ainda hoje me recordam diariamente essa passagem da minha vida, dado que me afetam sobre maneira a saúde física e não só.
 
Unimog que nos transportava 

 
No Hospital Militar de Nampula
 

Para além dos 4 feridos graves, tivemos igualmente mais 3 feridos ligeiros.
Pior sorte tiveram 3 companheiros que morreram nesse momento.
Dos miúdos que nos acompanhavam faleceram no local ou vieram a falecer posteriormente, 5 ou 6 em consequência dos ferimentos sofridos.
Foram também vários,  os miúdos que ficaram feridos ou estropiados...

Inocentes que nada tinham a ver com aquela guerra...
 
Para algumas mentes, seriam apenas "danos colaterais".
 
Para mim, que os ouvi chorar, eram os meninos da aldeia, que tanto adorava e com quem gostava de brincar...
 
Caros leitores, são estas situações que nos marcam para a vida e fazem de nós aquilo que somos.
 
Imagens e os sons que ainda hoje não esqueço e me consomem o espírito.
E que me vão acompanhar para o resto dos meus dias...
Especialmente, das minhas NOITES.
 
Aquele dia foi para mim o dia mais longo da minha vida.
Curta ainda (22 anitos), mas com uma vivência enorme moldada na picada e no mato de Cabo Delgado.

E continuando relembro:

O efeito das 2 doses de Morfina ministradas pelo amigo Furriel Enfermeiro Gardete, que nesse dia muito trabalho teve, dado que para além das baixas indicadas ainda tivemos mais 1 morto e 3 feridos numa emboscada, na mesma estrada, mas no sentido do rio Messalo, na coluna da água.

E lembro as palavras do Gardete dizendo: vou-te dar uma "dose de cavalo" para te aguentares na viagem.

O som característico dos rotores do helicóptero (que nunca mais me saiu dos ouvidos), numa viagem de helicóptero na evacuação entre Chai e Mueda, completamente "drogado", acompanhado por um anjo, a enfermeira para-quedista (me disse ser também alentejana de Viana do Alentejo e ao que julgo se chamará Mariana), me ia sussurrando ao ouvido palavras meigas e encorajadoras, para que eu aguentasse as dificuldades do percurso.
Nunca mais a esqueci, apesar de nunca mais a ter visto.

A primeira intervenção cirúrgica, ainda em Mueda, onde me engessaram o braço esquerdo e me tiraram um estilhaço da zona lombar junto aos rins.
Intervenção essa que quase não dei por ela, tal era a dose de morfina que levava e me retirou todas as dores durante mais de 24 horas.

Dakota da Força Aérea Portuguesa
 

Lembro ainda, vagamente, de me dizerem que iria ser evacuado para o Hospital Militar de Nampula, de me colocarem numa maca, me meterem dentro duma ambulância, tipo 2ª Guerra Mundial e me levarem para um Dakota, também da mesma época, onde me colocaram acompanhado de um cabo enfermeiro, que acompanhava mais uma vintena de feridos, com o mesmo destino, uns em macas outros sentados no "chão" da aeronave ou até em cima dos mais de 20 caixões (que também faziam parte da carga), até porque os poucos lugares sentados eram ocupados por "gente grande"...

Lembro também: sempre que o avião se inclinava, os feridos, as macas e os caixões misturavam-se numa dança macabra e era o salve-se quem puder...

Continuará este episódio...