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sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A cobra, no Monte dos Oliveiras, por Livre Pensador

 

Livre Pensador
2020/08/20

Durante a comissão da Ccav.3508 no Chai, houve um dia em que o meu grupo de combate foi incumbido de se deslocar para o Monte dos Oliveiras para montar segurança ao longo da picada, enquanto a coluna do Esquadrão de Cavalaria fazia o trajecto Macomia-Chai-Macomia. 




Com a segurança montada, aguardávamos já o regresso do Esquadrão do Chai para Macomia quando um dos meus soldados abriu fogo. 

Acto instantâneo, houve logo quem o imitasse, mas de imediato pedi que parassem os tiros. 

Aproximei-me do autor dos disparos e, ao lado dele, estava esta "pequenina" cobra que se preparava para lhe "montar uma emboscada". 

Trouxemos aquele "simpático" réptil para o Chai porque na nossa companhia havia um soldado (na foto) que sabia tratar das peles de animais.


domingo, 19 de julho de 2020

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Um Cantil de água por dia!..., por José D'Abranches Leitão

Um Cantil de água por dia!
Recordo os meses de 1971 em Macomia
Roleta russa, era assim que apelidávamos a Picada Macomia-Chai, mais uma coluna militar para proteção do alcatroamento e abastecimento de um pelotão da Companhia que estava na proteção da Ponte do Messalo.

Chegando ao Monte dos Oliveiras.
Bíblico o nome, mas estamos numa "zona de morte"!
Temos conhecimento de muitas baixas! As minas e os fornilhos, mesmo já com a picada alcatroada são maning!

O meu grupo avança apeado, debaixo de um sol tórrido. 
O meu cantil de água já está com pouco mais de um dedal de água.

O preço do "dedal", tampa do cantil, é de 100 escudos!
Alguns soldados fazem negócio. 
Ninguém leva dinheiro! 
Mas "a palavra dada, palavra honrada"!
No regresso acerto contas!

A minha secção avança de pica (vassoura) na mão, uns de um lado da picada, outros no trilho do lado contrário. Pé ante pé para não acordarmos a morte, que dormia debaixo do alcatrão.
A progressão é muito lenta. 
Nenhum palmo da picada escapa aos "picadores". 
Começámos a marcha mal o dia nascia. 
As viaturas, incluindo as AML Panhard 60, do ECav1, avançam a velocidade lenta, e de vez em quando fazemos uma paragem, para que os motores arrefeçam.


Muitos se deitam debaixo das viaturas, tal é a canícula!
30 e muitos quilómetros são feitos em quase 10 horas!?
O sol, o fantástico sol, vai descendo na floresta! Visão fabulosa...que por momentos me faz esquecer a "roleta russa" . 
Avançamos com os olhos postos nas pegadas do companheiro da frente. 
Chegamos ao Monte dos Oliveiras. 

As casernas são feitas de bidões de alcatrão, cobertos por chapas de zinco. 
Ali dorme uma Companhia de Artilharia, já bastante dizimada, pelo infortúnio. 
Restam alguns heróis que estoicamente vão sobrevivendo.

O Furriel Mil Anão da 2763, aparece com umas Laurentinas frescas, que nos oferece. 
Conversamos um pouco! Ofereço-lhe um maço LM, pois os cigarros, tinham acabado...


Muitas evacuações na CArt 2763.
Finalmente o Chai! 
Um pelotão da CCav 2751, faz-nos proteção até à Ponte do Messalo, onde pernoitamos.

No dia seguinte o regresso.
Chegados a Macomia, respiramos fundo!

Mais uma "jornada'!
A morte continua a ser adiada!

/
Cont.

José Leitão
CCav 2752

terça-feira, 26 de maio de 2020

24 de Maio de 1972, por Livre Pensador

Livre Pensador
24/05/2020
24 de Maio de 1972 foi o primeiro dia triste para os militares da Ccav. 3508 estacionada no Chai desde 21 de Fevereiro desse ano, e eu jamais o esquecerei. 
Foi o dia de mais uma coluna até ao famigerado monte dos Oliveiras. 
Como habitualmente, as viaturas partiram do Chai em marcha muito lenta, durante 5 ou 6 km até à ponte Mapuedi. 
Até esse local as possibilidades de emboscadas ou minas eram, por nós, consideradas remotas. 


Ao chegar ao local apeou-se a secção de picagem, e o restante percurso até ao monte dos Oliveiras (cerca de 15 km) será feito apeado. 
Dou orientações sobre os procedimentos a tomar e inicia-se a picagem. 
Instantaneamente ocorre uma explosão. 
Todos no chão e reacção imediata com tiroteio. 
Apercebo-me de só haver tiros das nossas tropas e mando parar o fogo. 
Assim que me levanto, fico petrificado ao verificar o que restava do corpo humano do militar que seguia atrás de mim, a montar segurança, enquanto eu picava. 
Os dilagramas que ele transportava à cintura tinham acabado de explodir. 
Assim faleceu ingloriamente, há 48 anos, o primeiro militar da Ccav. 3508, o 1º. cabo Manuel Delgado. 

Paz à sua alma. 

Na primeira foto pode ver-se o dispositivo adoptado para a picagem até ao monte dos Oliveiras, constituído por uma equipa de cada lado da picada e em posição desfasada.

Comentários
  • Duarte Pereira Os dilagramas não eram de fiar. Transportei dois durante quase toda a comissão entre as cartucheiras dos carregadores da G-3. Levava umas quatro ou cinco balas especiais para o seu impulso num dos bolsos da camisa do camuflado. Por vezes levava o sistema montado , já com a bala própria na câmara . Era preciso ter muito cuidado com as cavilhas das granadas , penso que até poderiam enferrujar e partir.

  • Livre Pensador Sem ter a certeza, mas quase posso garantir, que naquele caso terá sido uma cavilha que saiu dum dos dilagramas quando o malogrado Delgado saltou do unimog para o chão.

    • Fernando Bernardes O Delgado foi sentado ao meu lado,e o alferes ia nas nossas costas.Como ele não levantou logo,constou que teria estado toda noite a jogar,o alferes perguntou se ele não ia picar.Saltou do unimog e minutos depois estava morto.Quanto aos dilagramas,eu próprio vi e tive me minhas mãos alguns em que o braço que une o dispositivo onde se encontra a granada e a alavanca da própria granada,estava partida.Eu vi o movimento que o Delgado fez quando começou a andar e a picar.Ele procurou "apoiar" a G3 entre o corpo e as cartucheiras,prática que muitos utilizavam.Segundos depois estava morto.Quando cheguei junto do corpo dele,percebi logo que cheirava a leite com café,havia pedacinhos de notas em volta do corpo misturados com sangue dele,e toda a parte lateral esquerda não existia mais.

  • Armando Guterres Não passei da G3 e de uns petardos de TNT para mina anticarro (deles ou nossa? - estava por tapar). Mais três ou quatro para destroçar o que restou da arrecadação de material de guerra - éramos tão eficientes que dispensámos trabalhos externos [o que nestes tempos chamam de "exteriorização"].

  • José Coelho Muito meu amigo e conterrâneo,está sepultado no cemitério de Faro. Que descanse em Paz.

  • Rui Briote Foi um choque tremendo e nunca mais me esqueci, pois estava presente....;(. Estas datas são horríveis e a minha está a aproximar-se e estou a ficar já alterado... não é fácil

  • Jose Capitao Pardal O primeiro de muitos... Era da minha seção...
    O ex-alferes Jose Ribeiro fez uma ginástica enorme para o conseguir no nosso pelotão, pois era o cabo que na especialidade mais se tinha destinguido... Rui Briote é que não gostou nada da brincadeira... não foi?

  • José Coelho Na primeira mina que tivemos o Pinto encostou a G3 com dilagrama a uma árvore,correu para socorrer os feridos,no meio daquela confusão toda alguém sem querer tocou na arma,a mesma ao cair a granada saiu fazendo -se explodir,"uma desgraça numca vem só" (ditado antigo) um furriel em estado muito grave,penso que ficou cego...outro nosso Militar (O Nelinho) também gravemente ferido,sendo evacuado para Nampula e depois para a África do Sul terminando tanto o Furriel como o Nelinho, a sua triste carreira Militar no Hospital da Estrela.

    • Paulo Lopes Esse episódio foi o despoletar para a minha mobilização que, em princípio, estava já fora de questão!!

  • Armando Guterres O dilagrama tinha sido descavilhado. Mas, com a ordem de cessar-fogo, nem a atirou nem voltou a recolocar a cavilha.

  • Armando Guterres A sua ausência fez-nos falta.

    • Paulo Lopes Já a mim, a sua presença por aí também me fazia falta mas...

  • José Lopes Vicente Fiz quase toda a comissão com o diagrama. Por precaução a cavilha do diagrama retorcia para para dificultar a sua saída do diagrama. No carregador apenas a do bala do dilagrama. Apenas o utilizei uma vez no ataque à ponte do Messalo. Quando bem disparado dava muito jeito.

    • Manuel Fernandes Acabou de falar o jovem mais sereno da 08.Companhia Descarararar

  • Armando Guterres Para mim, o dilagrama e o morteiro 60, na terceira emboscada, deram-nos uma boa ajuda.
    Quem falou em sacas?

  • Joaquim Afonso eu recordo bem esse dia porque me tocou um carregamento de bidons de combustível e não gostava porque tinha medo.na minha lembrança estava a chover e com neblina

  • Alberto Cardoso Estava lá foi coisa feia o que aconteceu pois ele era quase meu vizinho

  • Fernando Silva Antonio Paz a sua Alma.