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sábado, 10 de outubro de 2020

Vai "abananado" das respectivas ajudas de custo..., por José D'Abranches Leitão

25 Março de 1971! 

Tive alta do HM125 ! 

Na véspera um Alferes Médico. ...perguntou-me se queria ir para o Hospital de Lourenço Marques, com um grau de incapacidade de 10 a 15%! (?)...mas como já andava bem, disse-lhe que queria voltar a Macomia, regressar à minha Companhia, comandar um grupo de homens de barba rija, a maioria transmontanos...com fibra de aço!
 
E la fui eu "abonado das respetivas ajudas de custo". 

O Sargento que me passou a respetiva guia de marcha, enganou-se e escreveu "vai abananado das respetivas ajudas de custo"!!!! 

Muito me ri, na viagem de regresso!!!! 

No bar dos sargentos, já em Macomia, houve cerveja a rodos...algumas lágrimas de emoção e...a "guerra" segue dentro de momentos!!!


segunda-feira, 27 de abril de 2020

O nascimento de uma criança, Américo Condeço


20/03/2015

MAIS UMA EXPERIÊNCIA DE VIDA

Um belo dia fomos chamados, o Doutor e eu, ao Hospital Civil de MACOMIA para assistirmos a um parto pois a parturiente estava em trabalho de parto já há vários dias e a criança não queria nascer.

O Dr Cardoso esteve a analisar a situação e decidiu-se pela evacuação, pois tanto Mãe como Filho já estavam com poucas forças e a situação estava a tornar-se perigosa para ambos.

Chamados os meios de evacuação, tratámos de transportar a dita senhora de ambulância para a pista pois o avião já vinha a caminho para proceder ao seu transporte para o Hospital Civil de Porto Amélia.

A mulher dentro do avião procedimentos normais e avião no Ar.

E foi ai que aconteceu o bom da situação, quando do contacto com o piloto para o adeus e até ao regresso o mesmo informou que a criança tinha acabado de nascer, ordem imediata para regresso pois tanto a mãe como a criança necessitavam de cuidados imediatos.

Ainda acompanhámos os dois durante alguns dias no hospital civil de Macomia, mas depois perdemos-lhe o rasto.

segunda-feira, 13 de abril de 2020

VOLTEI A ÁFRICA (3º. episódio), por Livre Pensador

Livre Pensador
13/04/2020
VOLTEI A ÁFRICA (3º. episódio)
Na ilha de S. Tomé os colonos portugueses dedicaram-se à criação de explorações agrícolas de cacau e café, designadas por roças. 

Existiam grandes e pequenas roças e o seu número total chegou a atingir a centena e meia. 
As pequenas normalmente vendiam a sua produção às grandes roças. 
Estas, cuja área oscilava os mil hectares eram completamente auto-suficientes. 
Tinham camaratas para os escravos, casas para os capatazes, oficinas de manutenção, estufas para a secagem do café e cacau, rede ferroviária e até hospital. 

O hospital era necessário para tratar algumas das epidemias próprias da época ... e não só! 

Em cada roça, a sua linha férrea destinava-se à recolha e transporte das colheitas até às estufas, feito em pequenos vagões puxados por uma locomotiva a vapor. 

A ilha de S. Tomé que tem uma área de 900 Km2, aproximadamente a área de Lisboa e arredores, chegou a ter 200 Km de linhas de comboio. 
A roça Monte Café fundada em 1858/1868 que visitei, é um desses exemplos e funciona actualmente como roça museu onde é possível ficar a conhecer toda a sua história. 
Dispunha dum efectivo que rondava os 2500 escravos. 
Trabalhavam de sol a sol e todos tinham objectivos a cumprir. 
Se falhassem eram apelidados de "malandros" e o capataz dava-lhes o respectivo "tratamento" e assim passavam uns dias no hospital. 
Por exemplo, às mulheres estava reservada a tarefa de escolher e separar os grãos de café. 
Cada uma tinha de o fazer a 30 Kg de café por dia, sob pena de passar uns dias de "descanso" no hospital. 
Também eram considerados "malandros" todos aqueles que tentavam fugir da roça. 
Para albergar todos os "malandros" o hospital era, normalmente, o maior edifício da roça. 

Todos estes escravos eram oriundos principalmente de Angola e até de Cabo Verde. 
Em Portugal, o comércio de escravos (não a escravatura) terminou oficialmente em 1761. 
Em S. Tomé a escravatura terminou em 1900. 
Os donos das roças foram então obrigados a fazer "contratos de trabalho" com salário descriminado, e assim os escravos passaram a ser considerados trabalhadores. 
Folhas de salário dessa época expostas na roça Monte Café, provam que a maioria dos "novos trabalhadores" nada recebiam depois de todos os "descontos" e "multas" que lhes eram aplicados!
Assim se compreende que S. Tomé/Portugal tenha sido o maior exportador mundial de cacau e café à custa de mão de obra quase a "custo zero"! 
A maior parte das roças estão hoje abandonadas.

Uma ou outra aproveitou o despertar do turismo na ilha e foi reconvertida para hotelaria, restauração e turismo. 

É o caso da Roça Saudade onde nasceu o escritor e artista plástico Almada Negreiros em 1893, bem como a Roça S.João dos Angolares onde pontifica o chefe João Carlos Silva autor do antigo programa de TV "na roça com os tachos". 

domingo, 23 de abril de 2017

A arte do desenfianço, por Gilberto Pereira


" JORNAL DA CASERNA "

NA SUA EDIÇÃO DE HOJE PODEMOS LER UM PEQUENO TRECHO INTITULADO:
" O MILITAR DESENFIADO "



DECERTO TODOS O CONHECIAM, ODIADO POR UNS AMADO POR OUTROS.
(Gilberto Pereira?...)

NÃO TENDO RESISTIDO AO EXCESSO DE ALCÓOL A FIM DE ESQUECER A MATILHA MILITAR, FOI VITIMA DE FEBRES ALTAS, TENDO SIDO EVACUADO PARA HM MUEDA E POSTERIORMENTE TRANSFERIDO PARA O HM NAMPULA.

AÍ FOI INSTALADO NUMA SUITE MILITAR E TEVE OS CUIDADOS MÉDICOS DE ACORDO COM A SUA PATENTE.

FORAM SEIS MESES DE LUTA CONTRA A DOENÇA, MAS AO MESMO TEMPO SEIS DE DESCANSO E LAZER.


ESTES DIAS ERAM PASSADOS DO SEGUINTE MODO:

ÁS NOVE HORAS DA MANHÃ A FEBRE APARECIA E IA ATÉ AOS
41,5º FAZIA EXAMES E ANÁLISES ORA NO HM ORA NO HC.

Á TARDE POR VOLTA DAS 4/5 HORAS A FEBRE DESCIA ATÉ AO
NORMAL. 

DEPOIS UM DUCHE UM "LANCHITO" E A FUGA PELO ARAME FARPADO EM DIREÇÃO Á CIDADE NA COMPANHIA DE OUTROS CAMARADAS TAMBÉM MUITO DOENTES.

UMA VEZ CHEGADO À CIDADE UMA PEQUENA GULOSEIMA NO PORTUGAL, UNS MORANGOS COM CHANTILY VITAMINAS CONTRA OS ANTIBIÓTICOS QUE A SANITA ENGOLIA.

DEPOIS UMA VOLTINHA LÁ PARA BAIXO QUE VOCÊS CONHECEM BEM AFIM DE MANTER A FORMA FISICA. 

DEPOIS TÁXI PARA CIMA EM DIREÇÃO À "FLORESTA" UM JANTAR PARA RETEMPERAR FORÇAS. 

JÁ É NOITE UM CINEMA DE VEZ EM QUANDO E PARA FINDAR A NOITE NADA MELHOR QUE UNS CAMARÕES E UMAS BAZUCAS NA "MARISQUEIRA A TAL PONTO QUE O REGRESSO AO HM TERIA DE SER FEITO EM TÁXI E QUANTAS VEZES NELE ENTREI DE GATAS COMO SE FOSSE AINDA MENINO.

AGORA O PIOR ESTAVA PARA VIR: E COMO ENTRAR NAQUELE
ESTADO SE AO CIMO DA RAMPA NO PORTÃO ESTAVA UM CHECA? 

NÃO HAVIA DISPENSA NEM PAPEL NENHUM COMO FAZER? 

A CABEÇA QUADRADA, AS PERNAS NÃO AJUDAVAM MUITO E O DESEQUILÍBRIO ERA CONSTANTE A PONTOS DE A MEIA RAMPA VIRAR PARA BAIXO.

APÓS ALGUMAS TENTATIVAS E PERANTE O OLHAR ATERRORIZADOR DO CHECA LÁ CONSEGUIA CHEGAR AO PAU DO PORTÃO QUE ME SERVIA DE BENGALA, E AGORA?

O CHECA DE ARMA APONTADA DIZIA: A SUA DISPENSA? E EU RESPONDIA: QUAL DISPENSA QUAL ???..........., MOSTRAVA O CARTÃO MILITAR E PUXAVA DUM MAÇO DE NOTAS E ENTREGAVA UMA DIZENDO TENS AÍ A DISPENSA E AMANHÃ HÁ MAIS--------.
E ASSIM ENTRAVA ENQUANTO ELE SORRIA PARA A NOTINHA E DIZIA BOA NOITE.

TODOS OS DIAS A HISTÓRIA SE REPETIA ATÉ QUE AO FIM DE SEIS MESES ESTAVA TESO E FINALMENTE A DOENÇA ESTAVA DESCOBERTA. 

IAM-ME DAR ALTA E EU IA PARA OS ADIDOS. 
ENTRETANTO JÁ TINHA PEDIDO MAIS DINHEIRO QUE CHEGOU NA HORA CERTA. 

AO CHEGAR AOS ADIDOS Á ESPERA DE TRANSPORTE PARA MACOMIA, FUI INFORMADO PELO OFICIAL DE DIA QUE SÓ TINHA COLUNA PARA MUEDA NA PRÓXIMA SEMANA E QUE ESTARIA DE SERVIÇO NO OUTRO DIA, AO QUE RESPONDI: NÃO NÃO FAÇO SERVIÇO NENHUM, TIRE ESSA IDÉIA DA SUA CABEÇA E ELE RESPONDEU: ENTÃO NÃO VENHAS VER A ESCALA NÃO!

COM DINHEIRO NO BOLSO FUI COMPRAR PASSAGEM DE AVIÃO NO MESMO DIA VOEI PARA PORTO AMÉLIA E Á TARDE DE TÁXI AÉREO PARA MACOMIA. 

APRESENTEI-ME COM O PAPEL DA BAIXA E TUDO FICOU BEM. 
ESTAVA ENTÃO DE VOLTA Á CASA MATERNA. 

ESTÁVAMOS POR VOLTA DOS ANOS 73 CREIO NÃO SOU MUITO BOM EM DATAS, MAS PELO PAPEL QUE TINHA DEVIA SER ISSO.
TEMPOS QUE JAMAIS ESQUECEREI.....

AS SAUDADES FORAM TANTAS QUE MAIS TARDE VOLTEI LÁ (HMN).
DESTA VEZ POR MENOS TEMPO, A METRÓPOLE ESTAVA PERTO.

MUITA COISA FICOU POR DIZER, JÁ VAI LONGA A CONVERSA E O VOSSO TEMPO É PRECIOSO.

UM ABRAÇO A TODOS.

quarta-feira, 25 de maio de 2016

Os traumas vêm à "tona de água", por José Capitão Pardal



A pouco e pouco os traumas vêm à "tona de água" e o melhor é "desabafá-los", por isso, trago à discussão de todos o comentário que acabo de fazer noutro local:
"Acrescento que muitas vezes a diferença entre "fazer bem e fazer mal", significava a nossa segurança, a nossa vida e a daqueles que nos acompanhavam...
No "arame farpado" desde que não afetasse a nossa segurança podia-se facilitar, mas fora deste todos os cuidados eram poucos e mesmo com cuidado era o que nós sabemos......
Uma das poucas vezes que facilitei, (pois não queria ir à lenha para aquele local, porque nos últimos dias todos para lá tinham ido e reconhecia que a rotina matava...) aceitei os argumentos facilitadores da minha (aliás do Belo) seção (havia lá muita lenha e era mais rápido do que ir à procura dela e disponhamos de mais tempo para descansar).
Fui à lenha para onde não devia ter ido, o que se tornara rotina nos últimos dias (e o IN também sabia disso, certamente) e deu no que deu (3 militares + 5/6 miúdos civis mortos e mais de 5/6 pessoas feridas, entre elas eu, que estive 5 meses no HMNampula, gravemente ferido)...
Assim sinto-me muito pior porque facilitei... que dizem?..."

Facilitar ou não facilitar era a questão...


Duarte Pereira Há "coisas" que ainda me fazem confusão.
A 3509 só fazia "picagens" de Macomia em direção ao mar.
Quando havia coluna para o Mucojo, a volta seria umas boas horas depois.
Nunca me lembro que alguèm tenha "picado" no regresso.
Deus esteve connosco.
Os problemas que houve eram sempre na ida.
O IN, só "trabalharia" à noite ?.

Rui Briote É muito natural que sintas mal, mas meu amigo e tudo uma questão de " sorte", destino é sei lá que mais.
Não penses que agiste mal, pois certezas ninguém pode dizer que as tem.
O que aconteceu tinha mesmo que acontecer...não te martirizes.
Repara no que aconteceu comigo.
Estou numa fase má, pois sempre que se aproxima o nove de Junho a minha cabeça não para. Interrogo- me sempre o porquê de não ter ido para Macomia com o meu pelotão.
Se o tivesse feito não estaria no estado em que estou?
Ninguém mo garante, mas a minha cabeça gira gira a dizer- me "agiste mal" ...

Jose Capitao Pardal Um abraço, Rui Briote.

Livre Pensador Amigo Pardal, concordo a 100% com a opinião do Briote, e por isso penso que não podes nem deves considerar que "agiste mal" naquele momento.
Será que algum de nós pode achar que nunca "agiu mal"?
Sempre fizemos o que pensávamos ser melhor em cada momento.
Abraço.
Fernando José Alves Costa Bom dia amigos Jose Capitao Pardal e Rui Briote, depois de passarem mais 40 anos, penso que não devem viver com esse peso de consciência, mas sim pensarem que foi o vosso destino e a ele não consegue fugir.
Naquele tempo poderá ter sido a melhor decisão, para quê continuarem a martirizarem-se com o que aconteceu tanto tempo.

Duarte Pereira Bom dia também para ti Fernando José Alves Costa

Fernando José Alves Costa Abraço Duarte Pereira, boa recuperação da Isabel.

José Guedes Pois é meus amigos, a gente lê e pensa no que aconteceu, mas sempre ouvi dizer, que onde hás de ir, não podes fugir.
A gente depois pode pensar que é sorte ou milagre para quem acredita nestas coisas.
Eu estive escalado para duas colunas e há ultima hora não foi a nenhuma delas, alguém foi no meu lugar porque o serviço assim se proporcionou, numa delas ouve uma emboscada onde o Fernando Costa esteve envolvido, o condutor que foi no meu lugar há ultima hora levou sete tiros nas pernas e uma outra vês alguém partiu no meu lugar com destino ao Chai e o Unimog onde ele ia teve uma mina, mais uma vês me safei.
Para mim sempre pensei que tinha um Anjo da guarda a proteger-me, não sou praticante mas sou católico e tenho fé, mas agora meus amigos vamos vivendo a vida como podemos e Deus quer, porque muitos camaradas nossos nem viveram para hoje contarem uma história.
Só podemos culpar a quem nos obrigou a ir para a guerra que a gente não queria.
Vamos seguir em frente e viver o melhor possível, sejam felizes,... um abraço,...

Armando Guterres a rotina na picada ... descarregar os carros descer às costas e nem tudo voltar aos carros - boa rotina.

Paulo Lopes Que eu me lembre, tirando um ou outro graduado que não lhe apetecia andar a pé, nas colunas Mataca / Macomia e ao contrário, nunca houve facilitismo mas, dentro do estacionamento, isso era um constante, onde permanecia um sentimento de uma segurança que não existia.
Nas operações, por vezes, para não haver facilitismo, o melhor era não ir onde o "cagão-mor" lhe apetecia que fossemos!

Armando Guterres E se fui ao sítio onde eles queriam - parece que, só com pessoal da Mataca, fui duas vezes, numa a emboscada não foi feita - um trilho apeado da população civil ir à água, segundo eles.
No outro, seria um trilho misto de tropa e carregadores na base da serra.
Tenho a dizer que disse ao alf que fosse ele fazer a emboscada e ele lá foi com uma secção. Entretanto muita falta nos fez uma guitarra (ou o barulho feito não teria deixado ouvi-la?).
Se calhar a Mafalda Arnault inspirou-se neste episódio ...

Luís Leote Jose Capitao Pardal, esse facilitismo que referes, Talvez tivesse sido o cansaço.

Umas breves frases escritas pelo José G. D'Abranches Leitão.

" 1971 - Cabo Delgado - Norte de Moçambique
Um aerograma...

"...O medo, a raiva e a ansiedade são na guerra as personagens principais, mas é o cansaço o verdadeiro protagonista.
O cansaço é a pior coisa que há numa guerra.
A fadiga do corpo, a fadiga da mente, a fadiga da própria vida, que nos aproxima tanto da morte que dir-se-ia uma tentação permanente.
Acho que se há heróis numa guerra, que lutam com desprezo da própria vida é porque estão demasiado exaustos para considerarem a vida uma coisa digna de apreço.
Nesta exaustão completa, o próprio instinto de sobrevivência desaparece."
--
in "Pedaços de memória..."

Jose Capitao Pardal Estamos a falar de realidades diferentes...
A Mataca não representava muito para as partes em confronto, podia ser descartada...
O Chai e o Messalo eram locais estratégicos para ambos os contendores e que mesmo que não quisessem, cruzavam-se com bastante frequência...
E não só no sentido figurado, mas também na realidade...
E naturalmente que o nosso comportamento teria que ser diferente...
Paulo Lopes e Armando Guterres eu compreendo o vosso também... mas ali até para os habitantes do aldeamento era difícil viver, sem tomar partido e manterem-se em segurança...

Armando Guterres Nos sabíamos onde eles passavam - chamava-lhe o trilho da jibóia, só faltava saber o número que calçava. As nossas operações eram para onde nós dávamos as coordenadas de termos sido detetados.
Tivemos problemas com cruzamento de relatórios, nosso e dos GE.
Resolvido com "Fui eu a comandar o quarto pelotão" - citei a resposta ao cmndnt de batalhão. ... pois ... um patrulhamento de um dia comandado por um capitão - singularidades da Mataca.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Que dança macabra, por José Capitão Pardal

 

 


Devo ter estado ali (Hospital de Mueda), para onde fui evacuado, em Março de 1973, após ferimento grave, no qual recebi os primeiros tratamentos.

Ali terei estado durante um dia e uma noite.
Como estava (ferido e com morfina), nem me lembro se lá estive...

Depois meteram-me numa maca manhosa, atiraram-me para um Dakota da 2ª guerra mundial, junto com outros feridos e mortos em caixões e com um cabo enfermeiro a acompanhar aquilo tudo, que durante o trajeto nunca mais vi...

Aquele ferro velho batia por todos os lados e quando se inclinava, os caixões e as macas com os feridos misturavam-se, numa dança macabra difícil de descrever...

Até que chegámos ao Hospital Militar de Nampula, onde durante os quase 5 meses que lá estive fui sujeito a várias cirurgias.
 
Após esses quase 5 meses, ainda com dificuldade em mover o punho esquerdo, com uma cicatriz lombar não totalmente curada e sem saber que o estilhaço da mina me tinha afetado em definitivo o rim direito, fui recambiado para a guerra, sem qualquer restrição.
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